A lavagem de dinheiro representa um grave problema para a economia brasileira, com impacto significativo na arrecadação tributária e nos recursos destinados a investimentos públicos. Estima-se que cerca de R$ 200 bilhões sejam perdidos anualmente em impostos devido a essa prática ilícita, segundo o financista e professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Ahmed El Khatib.
A lavagem de dinheiro envolve a ocultação de valores provenientes de atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e a corrupção, que são incorporados ao sistema financeiro como se fossem legais. No Brasil, a prática é regulamentada pela Lei 12.683 de 2012, que ampliou as penalidades e tornou mais abrangente a definição dos crimes relacionados. Esses recursos, desviados de serviços essenciais, representam uma das consequências econômicas mais alarmantes do crime financeiro no País.
Estrutura e iniciativas de combate à lavagem de dinheiro no Brasil
O Brasil conta com uma estrutura robusta para enfrentar a lavagem de dinheiro, composta por órgãos como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) e a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA). Desde sua criação, o COAF recebeu cerca de 19.856 comunicações de atividades suspeitas, sendo aproximadamente 70% dessas denúncias originadas pelo Banco Central. Além do COAF, a ENCCLA reúne cerca de 90 instituições e coordena ações dos três poderes do governo para aprimorar as políticas de combate ao crime financeiro.
Outro elemento essencial na luta contra a lavagem de dinheiro é o Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro (LAB-LD), que desenvolve soluções tecnológicas voltadas para a análise de dados, permitindo maior eficiência e precisão nas investigações. Esse laboratório, ligado ao Ministério da Justiça, tem papel fundamental na inovação de metodologias para a detecção e a análise de operações suspeitas.
Perfis e modos operandi na lavagem de dinheiro
Embora não haja um perfil único para os indivíduos envolvidos na lavagem de dinheiro, alguns padrões são identificáveis. Empresários, criminosos organizados e profissionais do setor financeiro estão entre os que mais frequentemente se envolvem em práticas de ocultação de recursos. “Empresas de fachada, transações imobiliárias inflacionadas e setores de alta liquidez, como o entretenimento, são frequentemente utilizados como instrumentos para lavar dinheiro”, acrescenta El Khatib.
Como a sociedade pode colaborar
O professor da FECAP destaca que o cidadão comum pode contribuir no combate à lavagem de dinheiro. Denúncias de atividades financeiras suspeitas e comportamentos anômalos são formas de colaborar com as autoridades. A conscientização comunitária sobre o impacto desse crime é fundamental para promover um ambiente econômico mais transparente. Além disso, a participação em iniciativas de transparência e combate à corrupção fortalece o controle social e contribui para a integridade financeira do país.
“A luta contra a lavagem de dinheiro exige uma abordagem colaborativa entre governo, setor privado e sociedade civil. Todos têm um papel essencial na construção de um sistema financeiro mais seguro e justo”, conclui El Khatib.
O especialista: Ahmed Sameer El Khatib é Doutor em Administração de Empresas e Educação, Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais, graduado em Ciências Contábeis; Pós-doutor em Contabilidade e Administração, e e graduando e doutorando em Psicologia Clínica. É professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e professor adjunto de finanças da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Foi chefe geral do orçamento da Secretaria Municipal de Finanças de São Paulo entre os anos de 2016 e 2019.
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