Encerramos outubro com uma sensação mais amarga no Brasil, ainda rodeados de incertezas quanto à promessa de um projeto para controlar o crescimento desordenado dos gastos públicos. Parece que ainda vai demorar um pouco até que tenhamos clareza sobre os detalhes dessa questão, mas é possível que uma mudança se materialize em novembro, dependendo do alcance do esforço fiscal, após um setembro e outubro desafiadores.
No cenário internacional, os investidores continuam analisando os resultados corporativos: Amazon e Intel se destacam nesta manhã, impulsionando os futuros americanos nesta sexta-feira, que antecede uma semana com reunião de política monetária e eleições presidenciais nos EUA. A quarta-feira, 6 de novembro, promete ser uma “Super Quarta”, mas a conclusão da reunião do Fed foi adiada para quinta-feira, dia 7.
Na Europa, as ações registram alta, encerrando bem uma semana difícil — talvez a pior em dois meses. Esse movimento ocorre após um dia negativo nos mercados asiáticos, mesmo com o PMI de manufatura da China em outubro superando as expectativas, enquanto o mercado seguiu o tom mais cauteloso observado nos mercados ocidentais ontem.
Não fuja, ministro
No Brasil, outubro terminou de forma desafiadora, com o Ibovespa registrando uma queda de 1,6% no mês e acumulando uma desvalorização de 3,85% no ano (cerca de 20% em dólares). O mercado local foi impactado pelo desempenho negativo dos mercados internacionais e pela divulgação de balanços corporativos, além da já familiar preocupação com o quadro fiscal. Ontem, tivemos um novo sinal de solidez da economia: os dados do mercado de trabalho superaram as expectativas dos investidores, com a taxa de desemprego caindo 0,2 ponto percentual para 6,4% em setembro, abaixo do consenso de mercado. Esse é o segundo menor índice da série histórica da PNAD Contínua, iniciada em 2012, ficando atrás apenas do trimestre encerrado em dezembro de 2013, quando alcançou 6,3%. Com ajuste sazonal, a taxa de desemprego caiu para 6,5%, o nível mais baixo desde março de 2012. A taxa de participação, porém, permaneceu estável em 62,2%, ainda em um patamar reduzido. Esses dados reforçam as expectativas de um aumento de 50 pontos-base na Selic na próxima reunião do Banco Central.
Além dos sinais atuais de atividade econômica, a principal preocupação segue sendo a desancoragem das expectativas. Combinado com uma economia americana ainda forte e o aumento das chances de vitória de Trump, fatores que impulsionam o dólar, o ceticismo local quanto ao cenário fiscal cria uma espiral negativa no câmbio. Para agravar a situação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estará na Europa na próxima semana, o que torna improvável a apresentação do pacote fiscal antes do dia 22 de novembro, quando será divulgado o relatório bimestral de receitas e despesas. Caso o governo não apresente as medidas até o final da próxima semana, é provável que isso ocorra apenas no final do mês. Essa demora aumenta o receio dos investidores de que o corte de gastos fique abaixo da expectativa média de R$ 25,5 bilhões, sendo que o ideal seria algo em torno de R$ 50 bilhões. O governo busca maior flexibilidade para ajustar despesas no orçamento sem passar pelo Congresso, mas essa alteração não será simples de aprovar. Com isso, os juros voltam a subir e o câmbio se aproxima da marca de R$ 5,80.
Ganhando tração
Nos Estados Unidos, novembro começa em um tom positivo após os bons resultados apresentados por Amazon e Intel na noite anterior. Esses números vieram em um momento oportuno, logo após uma quinta-feira turbulenta, onde os resultados de Microsoft e Meta, embora acima das expectativas, trouxeram preocupações em relação ao crescimento do serviço de nuvem da Microsoft e aos investimentos em infraestrutura da Meta, afetando o sentimento dos investidores. Felizmente, Amazon e Intel agora oferecem algum alívio, contribuindo para uma melhora no clima desta sexta-feira. Já a Apple, que também divulgou seus resultados, não obteve um desempenho tão expressivo e provavelmente não dominará as manchetes do dia.
Em relação à inflação, o índice de preços preferido pelo Federal Reserve indicou que a inflação continua convergindo para a meta anual de 2% em setembro, embora o ritmo mensal de crescimento dos preços tenha se acelerado levemente. Diante disso, a expectativa de que o Fed realize um corte nas taxas de juros na reunião de 6 e 7 de novembro segue como a mais provável, enquanto o mercado aguarda os dados de emprego de outubro, que serão divulgados hoje.
Entre os resultados corporativos que se destacam na agenda, temos Charter Communications, Chevron, Dominion Energy e Exxon. O foco, porém, estará sobre o aguardado relatório de payroll de outubro. O consenso do mercado estima um acréscimo de 108 mil vagas nas folhas de pagamento não agrícolas, após um aumento de 254 mil em setembro, com a taxa de desemprego projetada para permanecer estável em 4,1%. Vale destacar que o relatório de outubro pode refletir efeitos temporários, como greves e eventos climáticos, mas ainda assim, deve fornecer mais um indicativo da solidez da economia americana.
Notícias amargas
No Reino Unido, o recém-eleito governo trabalhista apresentou esta semana seu aguardado plano fiscal, com o objetivo de estimular o crescimento de longo prazo e reduzir a crescente dívida pública. Em sintonia com boa parte da Europa, o país busca um equilíbrio fiscal enquanto enfrenta desafios econômicos complexos.
Rachel Reeves, a primeira mulher a ocupar o cargo de chanceler do Tesouro, está determinada a impulsionar a economia britânica, mas seu plano inclui uma alta de impostos, somando US$ 52 bilhões em novas arrecadações, com o intuito de expandir os gastos em serviços públicos. Desde o anúncio, o mercado reagiu negativamente, refletido na elevação dos juros, na desvalorização da libra e na queda das ações.
A situação fiscal preocupante não é exclusiva do Reino Unido. Na França, o governo anunciou medidas de austeridade no início do mês passado para lidar com seu déficit público, que está entre os mais graves da Europa. Na Alemanha, que enfrenta o risco de recessão, o governo implementou cortes drásticos nos gastos. Essa situação reflete o legado da pandemia: as principais economias da Europa já não possuem o vigor de antes, e o eco da “hegemonia dos EUA” soa cada vez mais forte entre os formuladores de políticas externas europeias. Esse momento serve como um alerta para economias altamente endividadas e reticentes em adotar ajustes fiscais consistentes e eficazes.
Uma grande oportunidade
A inteligência artificial (IA) tem o potencial de ser a tecnologia que oferece à humanidade uma oportunidade sem precedentes de avançar em áreas como crescimento, educação, cura, inovação, criação e construção de um mundo mais próspero e justo, tudo em uma escala global jamais vista. Há quem acredite que essa onda de inovação tecnológica poderia impulsionar uma nova forma de globalização, já que o modelo antigo se vê limitado pelos desafios geopolíticos do mundo atual.
Nas últimas décadas, a globalização criou uma classe média global, mas concentrou riqueza, deixando muitas pessoas ainda à margem. Agora, com o avanço da IA e tecnologias relacionadas, aqueles anteriormente excluídos podem ter acesso a uma educação de qualidade, assistência médica e novas oportunidades de crescimento profissional e pessoal. Isso sugere que as novas tecnologias poderiam beneficiar especialmente países com altos níveis de desigualdade, como Índia e Brasil.
Essa visão não é unânime: alguns argumentam, por outro lado, que essas inovações poderiam acentuar a concentração de renda. É possível, realmente. No entanto, mesmo que as principais empresas do setor sejam americanas, tendo a ver as ferramentas de IA como promissoras para promover a inclusão social, assim como outras inovações tecnológicas recentes no Brasil, como a expansão da telefonia móvel e a própria criação do PIX, que trouxeram impacto positivo à população em geral.
Partição
É improvável que a Ucrânia consiga recuperar todo o seu território, e Vladimir Putin tampouco devolverá essas terras voluntariamente. Assim, com ou sem um acordo de paz, a Ucrânia provavelmente terminará dividida de fato. Essa é a visão predominante entre especialistas no tema, como destaca a Eurasia Group. A questão central passa a ser se uma Ucrânia pós-guerra poderá vislumbrar um futuro mais seguro e próspero, integrado ao restante do mundo e livre da ameaça de novas agressões russas. O alcance desse cenário depende do quanto de apoio diplomático, econômico e de segurança Kiev receberá de seus aliados ocidentais nos próximos dois a três anos. Afinal, estamos diante do primeiro conflito direto da chamada Nova Guerra Fria: uma guerra híbrida, não oficialmente declarada, contra a Rússia.
O apoio diplomático à Ucrânia continua firme. Embora o processo de integração à União Europeia seja longo e enfrente oposição crescente à medida que partidos pró-Rússia ganham força na Europa, o objetivo permanece endereçado. Com o apoio europeu amplamente consensual e uma liderança pró-Ucrânia na UE, pelo menos por mais um mandato, a perspectiva de adesão ainda parece viável. No âmbito econômico, porém, o apoio deve continuar, embora em níveis menores que os atuais. O suporte em segurança, por sua vez, permanece o maior desafio, seja por meio de uma adesão à OTAN ou de uma garantia de segurança formal. Ainda que o conflito em solo ucraniano se estabilize nos próximos anos, o confronto mais amplo entre a Rússia e o Ocidente tende a se tornar cada vez mais delicado.
FONTE: Empiricus Research e Grupo PTB Pactual