A neuropatia periférica é uma doença que afeta os nervos periféricos e causa dores em áreas como mãos, pés, pernas e braços. A condição ocorre quando há uma alteração no funcionamento nos nervos, comprometendo a comunicação entre cérebro, medula espinhal e outras partes do corpo.
A neuropatia periférica é um dos principais efeitos adversos sentidos pelas pessoas em tratamento de câncer com quimioterapia e estima-se que afete de 30 a 50% dos pacientes, podendo causar sequelas permanentes ou até mesmo a descontinuação do tratamento com o quimioterápico e interferir nas chances de cura e sobrevivência do paciente.
O aumento da sobrevida e a preocupação com a qualidade de vida dos pacientes têm incentivado a busca por novas ferramentas para prevenir este efeito. Na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), um estudo realizado pelos pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF) busca demonstrar a eficácia do uso de moléculas na prevenção e redução da neuropatia periférica induzida por paclitaxel - medicamento usado no tratamento do câncer - e a sua capacidade de reduzir a neuroinflamação e os danos oxidativos e metabólicos.
A pesquisa intitulada Agonista parcial do receptor PPARγ no controle da neuroinflamação e desenvolvimento de neuropatia periférica induzida por quimioterápico em camundongos é o tema do 11º episódio do projeto Minuto da Ciência, conteúdo multiplataforma produzido pela Gerência de Marketing e Comunicação da Univali junto à Vice-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão.
O estudo envolveu mais de 30 pesquisadores entre os anos de 2017 e 2023. A pesquisadora Nara Lins Meira Quintão explica que os agonistas do receptor nuclear PPARγ são ferramentas farmacológicas interessantes para o tratamento de distúrbios sensoriais crônicos, incluindo dor neuropática, em razão da sua capacidade de modular a produção de mediadores inflamatórios e ativar vias de proteção contra o estresse por meio de modulação na expressão gênica.
“A pesquisa iniciou com um aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas que é médico oncologista e que tem contato direto com pacientes que sofrem com esses efeitos adversos da quimioterapia. A primeira etapa consistiu em identificar a ligação das moléculas no receptor intracelular que é responsável por modular uma série de genes dentro da célula, principalmente os envolvidos no metabolismo. Inicialmente, a interação da glitazona com PPARγ foi confirmada usando ensaio computacional e ensaio in vitro. Posteriormente, a farmacocinética e a toxicidade também foram avaliadas por meio de análises in silico, in vitro e in vivo", afirma.
Os ensaios computacionais foram realizados em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e os estudos in vitro com o apoio da Universidade de Brasília (UnB). Com o resultado comprovado de que um dos mecanismos era pela ativação do receptor, a toxicidade do composto foi avaliada em ensaios in vivo com camundongos. O estudo apresentou biodisponibilidade oral e baixa toxicidade.
“Na fase final, comprovamos os efeitos terapêuticos em animais, mostrando que o uso do composto reduziu a dor induzida por quimioterápico e aumentou a capacidade de sobrevivência das células neuronais. É como se ele atuasse como um fator neuroprotetor quando administrado concomitantemente com o quimioterápico", explica.
O estudo teve o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc). Em 2023, a pesquisa foi publicada no British Journal of Pharmacology, uma das principais revistas de farmacologia do mundo.
“A publicação no British Journal of Pharmacology reitera a seriedade com que os experimentos foram realizados e isso é muito gratificante para todos os envolvidos nesses sete anos de estudo. Esse foi um trabalho feito com a colaboração de uma série de pesquisadores e universidades e que serve como protótipo para a investigação de novas moléculas e para que a indústria possa fazer os testes necessários e, possivelmente, os resultados possam chegar à população por meio de um fármaco para o tratamento dos pacientes", finaliza a pesquisadora.
Minuto da Ciência
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