Lembrar é preciso
As eleições diretas nos estados foram restabelecidas em 1982, ainda no apagar das luzes do Regime Militar, que teve um ponto final com a eleição de Tancredo de Almeida Neves à Presidência pelo Colégio Eleitoral.
O mineiro baixou hospital antes da posse e nunca assumiu. José Sarney, que era o vice, presidiu o Brasil por quatro anos.
Três anos antes, em Santa Catarina, houve um embate memorável reunindo o jovem (Esperidião Amin - PDS), aos 35 anos, que por 12,5 mil votos (0,5%) levou a melhor sobre o senador Jayson Barreto, filiado ao MDB naquela época.
Amin era deputado federal depois de sua passagem pela toda poderosa Secretaria de Transportes do Estado (hoje Infraestrutura) no governo de Jorge Bornhausen.
O ex-governador elegeu-se senador em 82, suplantando Pedro Ivo Campos por míseros 1,5 mil votos. Bornhausen cumpriu seus oito anos na Câmara Alta.
Campos sucedeu Amin no governo, mas não completou o mandato. Partiu prematuramente. Os 13 meses finais couberam ao vice, Casildo Maldaner. Naqueles dias, não havia reeleição. Estamos falando de 1990.
Há vagas
O MDB foi atrás de candidatos. Pinçou um jovem deputado estadual, que havia sido secretário da Fazenda de Pedro Ivo, Paulo Afonso Vieira, para encabeçar a chapa. Ele enfretou Vilson Pedro Kleinübing, que ficou em segundo quatro anos antes.
Meteórico
Como fez grande votação em Blumenau no pleito de 86, Kleinübing transferiu o domicílio eleitoral para a cidade do Vale, onde virou prefeito dois anos depois.
Assim como Esperidião Amin na Capital. Isso tudo no pleito municipal de 1988. Os dois formaram dobradinha majoritária em 1990 e foram bem sucedidos.
Pulverização
Em 1994, Kleinübing elegeu-se senador. Angela Amin concorreu ao governo pelo PPB (hoje PP); Konder Reis assumiu a proa com a renúncia de Kleinübing e tornou-se inelegível.
Aí Jorge Bornhausen virou candidato a governador. Resultado: com a divisão do espectro conservador, Paulo Afonso foi bem sucedido, derrotando Angela Amin no segundo turno.
Farra
Em 1998, já havia o instituto da reeleição, afinal o Congresso virou um balcão de negócios justamente para que Fernnado Henrique Cardoso pudesse concorrer à recondução, eleito que foi quatro anos antes.
Goleada
Por aqui, Esperidião Amin deu de relho na tentativa de reeleição de Paulo Afonso, abrindo 1 milhão de votos de dianteira. Quatro anos antes, a esposa dele, Angela, tomou uma virada surpreendente do próprio Paulo Afonso. Já em 2002, foi a vez do marido ser surpreendido por outro emedebista, Luiz Henrique da Silveira.
Repetiram o enfretamento em 2006 e LHS venceu novamente. Na primeira, o ex-governador tinha Eduardo Moreira de vice. O sulista cumpriu o último ano de mandato porque Luiz Henrique fez questão de disputar a reeleição fora do cargo assim como havia desafiado Amin a fazer em 2002, algo que o Progressista não topou.
Tudo em casa
Em janeiro de 2007, Moreira devolveu o governo a LHS que já tinha como vice o então tucano Leonel Pavan. Este também cumpriu mandato-tampão. Luiz Henrique concorreu ao Senado em 2010 e levou junto a Brasília outro tucano, Paulo Bauer.
Cabo eleitoral
Em 2010, LHS elege Raimundo Colombo ao governo, ele que havia sido eleito ao Senado pelo MDB em 2006 (embora estivesse filiado ao PFL, foram os votos emedebistas que garantiram a vitória do lageano).
Colombo renovou o mandato em 14 tendo como vice o mesmo Eduardo Moreira que ganhou outro mandato-tampão, abrindo caminho para que o ex-governador disputasse o Senado em 2018, ano do tsunami conservador e bolsonarista que guindou à condição de governador o ilustre desconhecido Carlos Moisés. Ele bateu Gelson Merisio no turno final.
Histórico
Pela primeira vez, o MDB ficou fora da grande final. Em 2022, tendo apresentado o candidato a vice de Moisés, o empresário Udo Döhler, novamente o Manda Brasa não chegou ao segundo turno.
O pleito foi vencido por Jorginho Mello (PL) num embate contra Décio Lima (PT).
Trajetóras
Fazemos essa digressão pelo calendário para apreciar a logenvidade das lideranças políticas de SC. Jayson Barreto, Luiz Henrique, Vilson Kleinübing e Pedro Ivo Campos já partiram. Todos eles disputaram o governo. Angela Amin, depois de perder duas eleições na Capital, deixou de ser alternativa e recolheu-se. Assim como Paulo Bauer que na reeleição de Raimundo Colombo quase provocou o segundo turno em 2014. Colombo liquidou a fatura no primeiro round.
Fogo de palha
Paulo Afonso ficou marcado pelo episódio dos precatórios e a derrota acachapante para Amin em 1998. Já se aposentou há muito tempo.
Eduardo Moreira nunca teve votos. Sempre foi no vácuo. Pavan se elegeu três vezes prefeito de Balneário Camboriú; foi deputado federal, senador, vice-governador e ficou por aí. Hoje é pré-candidato a prefeito em Camboriú, cidade que deu origem ao famoso balneário. Trocou o PSDB pelo PSD.
Fim da linha
Raimundo Colombo foi governador por sete anos, tendo sido senador antes disso. Agora perdeu duas consecutivas para a Câmara Alta. Em 18, amargou um quarto lugar. Não chegou a 1 milhão de votos.
No ano passado, ficou em segundo, perdendo, contudo, por enorme margem para Jorge Seif. É outro que tem destino certo e selado: aposentadoria.
Amin, o sobrevivente
O único sobrevivente desde a redemocratização é o senador Esperidião Amin. Está na segunda passagem pelo Senado. Foi duas vezes governador; pilotou a Capital em três oportunidades, e cumpriu vários mandatos de deputado federal. Considerando-se seu estupendo desempenho em Brasília no atual mandato – é hoje o melhor senador brasileiro – Amin poderá novamente ser candidato em 2026 aos 79 anos.
O que ilustra, ainda, o enorme vácuo de lideranças consistentes em Santa Catarina.