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07/02/2019 | 10:09

Rápida transformação do mercado é a maior ameça para os negócios, diz Carlos Henrique Fonseca

Em entrevista à Rede Catarinense de Notícias, o novo diretor superintendente analisou o ambiente de negócios catarinense e falou sobre as principais dificuldades do segmento de pequenas empresas. Para ele, trabalhadores deverão estar preparados para criar o próprio emprego. Veja a entrevista completa:

Rede Catarinense de Notícias - Nos últimos anos, o país e o Estado passaram por uma profunda crise política e econômica que transformou as condições de trabalhar e empregar. Nesse cenário, qual a avaliação sobre os micro e pequenos negócios em Santa Catarina?

Carlos Henrique Ramos Fonseca - Passamos por um período de grave recessão que atingiu muito o setor produtivo, principalmente, o pequeno negócio. E o pequeno negócio é o motor propulsor de qualquer economia, de qualquer retomada de desenvolvimento. A expectativa agora para os próximos anos é a retomada do desenvolvimento. E a pequena empresa vai ter um papel preponderante nessa alavancagem. Em 2018, sete em cada 10 empregos gerados em Santa Catarina foram em pequenos negócios. Então, a retomada é esperada para 2019. O índice de confiança dos empresários nunca esteve em um patamar tão alto como está agora. Pesquisa do Sebrae mostrou que sete em cada 10 empresários de pequeno porte acreditam que 2019 vai ser melhor do que 2018. Então, isso tudo vai exigir mais da nossa corporação. Um movimento maior, exigências maiores dos nossos clientes. E, para isso, nós precisamos captar essas mudanças, nós temos que nos reinventar. Se você analisar com os empresários, qual a maior ameaça no ambiente de negócios? É a rápida transformação que se tem no mercado. As empresas têm que se adaptar. E o papel do Sebrae como suporte de consultoria é estar à frente com a velocidade exigida pelo mercado e atender essas demandas. Assim como as empresas estão se reinventando, o Sebrae também precisa se reinventar.

RCN - Como fazer isso na prática?

Fonseca - Um dos caminhos é a transformação digital. Atuar internamente para ser mais ágil, estar mais próximo dos nossos clientes, e ter que a qualidade exigida pelo mercado. Hoje, 98,5% das empresas catarinenses são micro e pequenas empresas. Então, se você não usar tecnologias mobile para chegar nesses clientes, dar essas informações, e ajudá-lo na tomada de decisão, você não está cumprindo esse papel. O cumprimento da nossa missão vai passar obrigatoriamente pela nossa transformação digital.

RCN - O mandato à frente do Sebrae vai até 2022. Qual deve ser o foco?

Fonseca - Nós estamos trabalhando uma nova forma de gestão na nossa diretoria até 2022. Uma bandeira é fortalecer o empreendedorismo. Ou seja, desde o nível da escola fundamental, conversando com os prefeitos, no ensino médio, com a Secretaria de Estado da Educação, e com as universidades. É preciso formar novos empreendedores, porque, com as exigências no futuro, cada vez mais, com as novas tecnologias, o emprego formal vai reduzir drasticamente. Assim, o microempreendedor individual vai ser o acesso ao trabalho. Ele vai ter que gerar seu próprio emprego, gerar suas competências. Nós temos que preparar ao máximo o nosso empreendedor para ele chegar bem ao mercado. E o nosso empreendedorismo não é só criar uma empresa, ou um negócio. Hoje, trabalhando em qualquer corporação, para ser bem sucedido é necessário ser empreendedor. Às vezes se confunde, mas empreendedorismo não é só para montar o próprio negócio. A sua carreira necessita de empreendedorismo. Você precisa estar se questionando, se reinventando, se atualizando constantemente. A segunda bandeira a é qualificação. Nós temos que cada vez mais levar as melhores ferramentas de gestão para nossas empresas porque hoje, se elas não estiverem preparadas, elas não vão sobreviver. A redução da mortalidade dos negócios passa por uma melhoria de gestão. Nós temos que tirá-los da zona de conforto. O Sebrae já nasceu como acelerador do ecossistema de inovação, para apoiar o pequeno negócio a crescer. Então, essa qualificação é fundamental para o futuro. É preciso levar inovação, em terceiro lugar. Quando se fala em inovação, geralmente as pessoas pensam em inovações disruptivas. Ou seja, inventar uma coisa nova. Não! É melhorar um processo, é melhorar um produto, isso é inovação. Isso impacta diretamente no resultado final da empresa. E, também do lado da inovação, aproximar empresas de tecnologia das empresas tradicionais para levar inovação e conhecimento adiante. Esses dois mundo tem que se aproximar. O quarto papel é a internacionalização. Em duas vertentes: internacionalizar a empresa e também a importação de insumos. A hora que a empresa é inserida no mundo do mercado mais exigente, mais competitiva, ela obrigatoriamente vai ser mais exigente, mais competitiva.

RCN - E em relação aos micro e pequenos empresários? Qual a principal demanda do gestor?

Fonseca - Eu diria que tem diversas demandas conjugadas. Nós temos estrangulamentos hoje de acesso ao crédito. Infelizmente, a poupança nacional está a serviço do governo e não a serviço a produção. Praticamente 86% das micro e pequenas empresas não têm acesso ao crédito. A grande dificuldade é garantir que elas acessem o crédito porque a economia do Brasil está centrada em cinco bancos. Para melhorar a competitividade, nós temos que aumentar o número de players nesse mercado. Outro problema é qualificação. Com a crise, muitos empreendedores que entraram no mercado estão passando necessidades. Às vezes, perderam o emprego e foram empreender, mas sem qualificação. Por isso aquela formação empreendedora desde a primeira infância. Hoje, um fator preponderante da mortalidade das empresas é gestão.

RCN - A mortalidade das empresas é considerada alta? Preocupa?

Fonseca - Não é preocupante. Santa Catarina tem um dos índices mais baixos a nível nacional. Mas nós temos que procurar reduzir. Precisamos melhorar a produtividade da pequena empresa. Nossa produtividade hoje em pequenas empresas, na comparação com médias e grandes, está em patamares muito inferiores. Não estou nem comparando entre países, mas a competitividade interna, da micro em relação a grande, da média em relação a grande, precisa melhorar bastante. E isso acontece com formação, com tecnologia, e crédito.

RCN - Cresceu muito nos últimos anos o empreendedorismo por necessidade, resultado de demissões das vagas tradicionais. Como o senhor avalia esse movimento?

Fonseca - Segundo o IBGE, em Santa Catarina, dos 7 milhões de habitantes, 5,3 milhões são população economicamente ativa. E somente 2,3 milhões tem emprego formal. Temos em torno de 400 mil empresários, desde o MEI até a multinacional, a grande empresa. Então, nós temos fora desse mercado 2,7 milhões de pessoas que estão na informalidade, os nem-nem (nem estuda e nem trabalha), mas são clientes que nós temos que ajudar a empreender. Não tivemos o tempo de prepará-los na escola, mas precisamos fazer agora, trazer para a formalidade, gerar o seu negócio, ou emprego.


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