quinta, 18 de abril de 2024
Política
04/12/2015 | 17:20

Volnei Morastoni diz que nunca esteve fechado ao diálogo com o PMDB itajaiense

Disputar uma eleição para prefeito é desafiador para qualquer político, especialmente quando o embate começa dentro do próprio partido. Pré-candidato declarado à prefeitura de Itajaí pelo PMDB, Volnei Morastoni trava, mesmo sem querer, uma guerra contra uma ala da sigla em Itajaí, que não admite a escolha de seu nome.

Apesar disso, o médico, ex-deputado e ex-prefeito se mantém sereno. Fala sobre as deficiências da cidade hoje, sua relação com o rival histórico Jandir Bellini e como as mulheres sempre tiveram participação essencial durante seus mandatos. Em relação à insatisfação que seu nome gerou no PMDB municipal, diz que isso faz parte do pensamento de uma minoria e que nunca se negou a dialogar com os opositores.

Nessa nova fase, começa a deixar de lado a figura carrancuda que se tornou quase uma marca pessoal. Permitir escapar o sorriso pouco habitual não significa, no entanto, menos seriedade de sua parte. Pelo contrário, convicto de que irá encarar uma batalha concorrida, mantém o tom firme, coerente e foca na resolução dos problemas da cidade.

Jornal dos Bairros – O PMDB já confirmou o seu nome como pré-candidato à prefeitura no ano que vem. O senhor migrou para o partido com essa intenção?

Volnei Morastoni – Quando eu migrei para o PMDB não foi com a condição de ser prefeito. Eu já pensava em migrar para o partido há muito tempo. Recebi reiterados convites ainda do governador e senador Luiz Henrique da Silveira. Como eu estava no exercício de mandato por outro partido, eu não me sentia confortável naquele momento em abandonar o partido. Já que não me elegi nas últimas eleições me senti livre para tomar esta decisão. O senador Luiz Henrique me convidava para conversarmos sobre os assuntos da política local desde dezembro do ano passado. Em maio, em um fim de semana, quando ele me convidou para ir ao apartamento dele em Itapema, para uma conversa sobre esse assunto, eu tomei essa decisão. Na semana seguinte ele propiciou um encontro meu com o presidente estadual do PMDB, deputado Valdir Cobalchini, que já vinha fazendo convites nesse sentido. Nessa semana, ainda na quinta-feira, o senador Luiz Henrique participou de uma reunião da executiva estadual do PMDB, em Joinville, que entre outros assuntos tratou da minha ida para o partido, confirmando a minha ida para o PMDB; no domingo, infelizmente, ele faleceu. Com a minha ida para o PMDB a direção estadual manifestou desejo de que eu pudesse ser candidato nas eleições municipais de 2016. Passou a colocar essa condição de que eu poderia ser um pré-candidato. Isso é apenas uma proposta preliminar de conversações do plano estadual, até fruto de uma convivência que eu tive ao longo de muitos anos com os deputados do PMDB. Eu tive quatro mandatos de deputado, convivendo com parlamentares estaduais e federais do PMDB. É fruto dessa convivência que me elegeram para a Assembleia Legislativa de Santa Catarina, também fui governador interino, substituindo o governador Luiz Henrique e o vice Eduardo Pinho Moreira.

É natural que após todas as conversações nós teríamos uma etapa local, em Itajaí, de conversas no plano local. Acabaram acontecendo algumas manifestações contrárias, mas em momento nenhum estava programado que eu viria sem um diálogo com o diretório local. O meu nome podia ser colocado como pré-candidato e poderíamos ter outros pré-candidatos. Tem muita água para passar debaixo da ponte, desde um momento como esse até a convenção, que acontece em meados do ano que vem, para definir as candidaturas, alianças. Além da candidatura do partido tem alianças a serem construídas. Tem que dar tempo ao tempo. Qualquer precipitação ou intransigência nesse sentido não se justifica, porque a política pressupõe a arte do diálogo, da conversação, essa é a matéria prima da política, dirimir eventuais diferenças, divergências, para poder chegar a um consenso, em um entendimento comum, faz parte da política. É nesse sentido que eu imaginava a minha vinda para o PMDB, para somar, nunca para dividir ou criar adversidade ou contrariedade.

Jornal dos Bairros – O senhor vem de um histórico de eleições sempre muito concorridas. Como está se preparando para 2016? Já montou uma equipe de trabalho? Há um planejamento nesse sentido?

Volnei Morastoni – Eu já participei de muitas eleições, algumas eu perdi, outras eu venci. As que eu perdi foram até mais importantes no ponto de vista do aprendizado, dos ensinamentos. Uma eleição, uma campanha, sempre é um trabalho coletivo de muitas mãos, de muitas mentes e corações. Nesse sentido, como pré-candidato do partido, estamos em uma fase de preparação internamente, em relação a uma nominata de pré-candidatos a vereador, de conversações com demais partidos, de organizar grupos temáticos, sobre o Complexo Portuário, sobre a mobilidade urbana, sobre saúde, sobre educação, sobre segurança pública, enfim, todos estes temas que compõem as políticas públicas, visando uma proposta de governo para a cidade. Conto com a minha experiência de eleições anteriores, de mandatos que exerci, incluindo a honra que tive de ser prefeito de Itajaí. O povo de Itajaí já me concedeu essa responsabilidade. Tenho refletido muito sobre aquele período e retiro lições para que em um próximo mandato eu possa colocar em prática, com mais afinco e mais atenção às muitas ideias e propostas. 

 

Jornal dos Bairros – Por conta desse descontentamento que existe em uma ala do PMDB municipal, muitos militantes ameaçam deixar o partido. O senhor não tem medo que simplesmente não sobre gente para lhe apoiar?

Volnei Morastoni – Não, primeiro porque essa ala descontente, com certeza, é uma minoria do partido. Os vereadores do PMDB me apoiam. As lideranças estaduais que me apoiam refletem no apoio de grande parte do partido local. Eu entendo que essa parte, capitaneada pela Eliane Rebello, esteja descontente porque a minha vinda para o PMDB possa ter contrariado planos que eles já tinham em mente. É possível que o partido estivesse comprometido com outro projeto político, não com uma candidatura própria, a reboque de outro candidato. Nesse sentido é que essa situação desencadeou essa contrariedade e ira toda. Desde o começo eu me coloquei à disposição para diálogos. Na política, a conversa é fundamental. Não há situação de contrariedade e divergências que não se possa conversar para se entender. Dificilmente o partido seria esvaziado ou não sobraria ninguém, eu duvido porque isso não acontece. Nos últimos dias nós realizamos uma reunião com mais de 700 pessoas, a grande parte era filiado do partido em Itajaí. O mais importante nesse momento, de minha parte e da comissão provisória, que está à frente do PMDB, é que nós queremos dialogar com todos, inclusive com esse outro grupo, para ter um consenso e trabalhar pela unidade do partido.

Jornal dos Bairros – Essas pessoas que talvez deixem o partido podem, propositalmente, fazer campanha contra o senhor. Como se defender em relação a isso? A Eliane é uma delas, já que é veemente no fato de que o senhor não respeita as mulheres.

Volnei Morastoni – Primeiro que eu lamento muito que ela [Eliane] tenha a infelicidade de estar proferindo esse tipo de palavras. Na verdade, não há justificativa a não ser que ela tenha uma razão de foro pessoal e se for o caso não cabe generalizar. Vamos pegar o período em que eu fui prefeito de Itajaí como exemplo. No meu mandato, e em outros mandatos, as mulheres sempre ocuparam, massivamente, espaços em assessorias. Homens e mulheres participaram. Meu gabinete tinha maioria de mulheres. Quando eu fui prefeito, a própria Eliane Rebello foi vice-prefeita, escolhida por mim. Foi a primeira vez que uma mulher chegou à vice-prefeitura de Itajaí. No meu governo ela foi secretária de Educação, superintendente do Porto de Itajaí. No meu governo a professora Elizete foi secretária de Educação, pelo PMDB, a dona Rosa Sedrez foi secretária de Gestão de Pessoas, a Silvana Pitz foi secretária de Planejamento Urbano, a Neusa Girardi foi secretária da Assistência Social. Eu posso enumerar as mulheres que estiveram à frente nesse período, sempre houve muito diálogo e total liberdade de ação para exercerem suas funções. Foi no meu governo, por exemplo, que eu criei uma Coordenadoria de Igualdade Racial, a dona Conceição, uma senhora negra, que ocupou o posto. Foi no meu governo que a primeira procuradora do município foi uma mulher negra, doutora Flávia. São exemplos concretos, objetivos de espaços políticos ocupados pela mulher durante o meu período enquanto prefeito. Eu tenho uma luta histórica que me diferenciou e, praticamente me consagrou lá no começo, quando eu saí do anonimato, desde que cheguei em Itajaí como médico, que é a luta pelos direitos da mãe acompanhante para crianças hospitalizadas, foi uma luta minha. Depois, esse direito foi consignado no Estatuto da Criança e do Adolescente, que toda criança hospitalizada pudesse ter ao lado a mãe ou o pai, alguém da família, mas geralmente é a mãe que acompanha o filho doente. Só a simbologia dessa luta, pelo direito de mãe acompanhante, colocando a figura da mulher como mãe, é uma das marcas de todo o meu ativo político.

Sinceramente, é uma infelicidade da parte da Eliane Rebello ao reiterar essa fala, que não há nenhuma razão.  [O senhor teme perder essa parcela de eleitores?] Não. As mulheres sempre participaram ativamente dos meus mandatos, ocupando cargos, participando em campanhas e isso é um ponto que está sendo colocado para um objetivo escuso, que não se justifica. Pelo contrário, eu sempre respeitei e continuarei respeitando as mulheres, entendendo que as mulheres são a maioria do próprio eleitorado, que elas devem participar da política, devem ocupar cada vez mais espaços na política, porque é importante para a boa política do bem comum, a sensibilidade feminina é muito importante na política. Nos meus mandatos estaduais, durante o PT, as mulheres sempre participaram. A Ideli Salvatti (PT) foi deputada estadual comigo, depois ela seguiu carreira, onde sempre tive excelente relacionamento político com ela; assim como as deputadas Ana Paula Lima (PT) e Luciane Carminatti, entre todas as mulheres de outros partidos com quem eu sempre convivi na Alesc. Ou seja, não há nenhuma razão para uma afirmação desta natureza.

Jornal dos Bairros – O senhor foi prefeito de Itajaí justamente quando o Jandir Bellini (PP) não pôde concorrer por estar no segundo mandato. Em outras ocasiões foi derrotado por ele. Politicamente, o senhor considera o Bellini seu principal rival?

Volnei Morastoni – Não. O deputado Jandir Bellini e eu, enquanto pessoas, somos amigos e eu tenho o maior respeito pela pessoa dele. Eu fui prefeito e sei as dificuldades que um prefeito passa, muitas vezes não dá para fazer tudo o que desejamos, sei que ele depende de uma equipe que está a sua volta e nem sempre essa equipe corresponde adequadamente. Há esses dissabores, essas situações que deixam o prefeito desgostoso. Tenho respeito por ele. Nós fomos deputados juntos quando nos elegemos pela primeira vez, no mandato de 1995 nós iniciamos juntos na Alesc. Eu fui candidato várias vezes e ele também, então coincidiu que nas eleições que eu disputei ele ganhava e eu perdia. Depois fui prefeito na sucessão dele, mas não há nenhuma incompatibilidade do ponto de vista pessoal. Respeito o trabalho dele. Podemos ter divergências políticas sim, projetos políticos distintos. Mas ao mesmo tempo eu procuro, sempre que possível, ter um diálogo com ele. Coloquei os meus mandatos como deputado à disposição do prefeito Jandir Bellini, no sentido de ajudar a cidade.

Jornal dos Bairros – O Jandir, como se sabe, não preparou um sucessor. O senhor mesmo quando era candidato a deputado falava que tinha o sonho de ser prefeito de Itajaí novamente. Apesar disso, o senhor já pensa em preparar o Thiago Morastoni para sucedê-lo e não cometer o mesmo erro do PP?

Volnei Morastoni – O Thiago é um jovem político no exercício do primeiro mandato de vereador. É inteligente, estudioso, muito esforçado e determinado. Ele está fazendo um bom trabalho logo no primeiro mandato, um trabalho respeitado e reconhecido. Ele tem um futuro promissor na política porque gosta dessa atividade. Ele é formado em Direito, tem pós-graduações e tem esse desejo de continuar na caminhada política. No começo, quando ele ia sair candidato pela primeira vez, e eu e minha esposa, Nausicaa, tentamos persuadi-lo a não ser candidato, porque é um caminho difícil, que muitas vezes traz agruras, dificuldades, contrariedades. Naquele momento ele podia fazer outras opções profissionais, mas manifestou essa vontade de seguir na política, possivelmente espelhado na minha trajetória. Então, tudo bem, a recomendação que nós demos era que a política tinha que ser exercida com lealdade, voltada para o bem comum. Ele tem uma longa caminhada pela frente e eu acredito que ele terá muito sucesso.

Jornal dos Bairros – Ao que tudo indica o Décio Lima (PT), seu ex-companheiro de partido, deve concorrer também à prefeitura de Itajaí. Como o senhor acha que será esse embate com ele?

Volnei Morastoni – Acho que, embora o deputado Décio Lima tenha transferido o domicílio eleitoral para Itajaí e manifestado o desejo de ser candidato, é possível que dentro do contexto atual da cidade ele não seja candidato. Imagino que ele tenha outros planos que não sejam imediatos, mas para o futuro. Se decidir ser candidato, que seja bem-vindo e que possa acrescentar e fazer com que tenhamos uma campanha de alto nível. Na condição de pré-candidato, é isso que eu desejo. Se realmente confirmarem uma candidatura minha em Itajaí, eu espero que nós tenhamos uma campanha civilizada, de alto nível, que se detenha em projetos políticos para a nossa cidade, sobre os problemas que Itajaí tem e que possamos melhorar, tendo o porto como um dos pontos principais, que está à deriva devido a todos os problemas, que possamos deter essa situação de decadência do Porto de Itajaí, resolvendo problemas de gestão local, fortalecendo a municipalização local do porto, que foi uma das maiores conquistas que tivemos, ampliando e inovando essa gestão a partir de um conselho de administração também deliberativo, com uma participação tripartite, do poder público, empresários e trabalhadores, precisamos rever ou findar e fazer uma nova licitação, ou estabelecer regras claras nesse atual contrato, que muitas vezes não foram cumpridas até o momento pela APM Terminals, arrendatária do porto, e precisamos manter os berços três e quatro como públicos, para que outros operadores portuários possam atuar, para que o porto não seja monopolizado por um único operador. Nós temos muitas tarefas pela frente.

Jornal dos Bairros – Muitos pré-candidatos estão aguardando ansiosamente as definições do Paulinho Bornhausen. Seria possível uma aliança entre as duas siglas para que o senhor e o Paulinho formem uma chapa?

Volnei Morastoni – Em política nada é impossível, até porque a política é a arte do diálogo, da conversação. Oxalá um dia nós pudéssemos chegar em uma ponte onde todas as diferenças e divergências, começando pelas pessoais, jamais interferissem na convivência entre as pessoas. Mesmo as convivências políticas que nós podemos ter, que elas fossem superadas em um projeto muito maior de interesse do bem comum da cidade. Eu não nego essa possibilidade de que possamos convergir em um grande projeto de interesse comum. O que está posto hoje é que, possivelmente, se o Paulinho for candidato, é que ele seria candidato de um agrupamento político definido como uma continuidade do projeto político de Itajaí. Temos que reconhecer os avanços, pontos positivos e coisas boas que foram feitas, mas na verdade podemos dizer que esse ciclo Jandir Bellini está chegando ao final. Nós precisamos rediscutir um outro ciclo, em outros patamares que a cidade exige hoje, após esses problemas recentes. Precisamos estabelecer outros parâmetros para o governo, inclusive a transparência, para fazermos um governo totalmente transparente.

Jornal dos Bairros – Já se sabe quem será seu candidato a vice?

Volnei Morastoni – Não existe ainda como pré-candidato nenhuma definição sobre possíveis vices. Isso tudo será fruto de conversações dentro do próprio partido e depois com demais siglas. Somente depois de conversações, quando se tem definida uma aliança, quais os partidos que integram a aliança, é que se define essa composição final.

Jornal dos Bairros – Sua saída do PT enfraqueceu muito o partido na cidade. O senhor espera contar com o voto dos petistas que antes votavam no senhor?

Volnei Morastoni – Estive no PT durante 35 anos, desde a fundação, em 1980, até agora, em 2015. Exerci vários mandatos pelo partido, sempre com fidelidade partidária, com garra e honestidade. A saída do partido não significa nenhuma ruptura. Tenho grandes e bons amigos no PT, inclusive entre os eleitores petistas. Espero que, a partir da proposta que o PMDB vai desenvolver junto a outros partidos aliados, nós possamos também cativar o voto desse segmento da sociedade através do PT.


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