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Geral
29/03/2012 | 16:41

FRITZ - por Luiz Henrique da Silveira

Em primeiro lugar, preciso corrigir um erro cometido no artigo da semana passada: confundi-me e troquei a verdadeira data de nascimento de Juarez, 16 de março, por 24 de março. Fica aqui a errata para que, em tempos de internet, meu erro não prolifere.

O homenageado de hoje não é natural de Santa Catarina, mas é um de seus mais ilustres filhos adotivos. Nascido no dia 31 de março de 1832, em Windischholzhausen (hoje parte de Erfurt), na Alemanha, o naturalista, zoólogo e botânico Johann Friedrich Theodor Müller deixou sua cidade, aos vinte anos, para fazer de Blumenau a sua morada, onde ficou conhecido como "Fritz Müller", desenvolvendo trabalhos científicos fundamentais para a comprovação da Teoria da Evolução de Charles Darwin.

Windischholzhausen é uma pequena cidade da Saxônia. Menor que Hasselfeld, onde nasceu o Dr. Blumenau; bem menor do que Glauchau, o pólo têxtil natal de Ottokar Doerffell. Esses três ícones da colonização germânica eram saxões. Nascidos em três cidades próximas, da mesma região, vieram para o Brasil depois da Revolta de Dresden, que, em 1848, foi o desaguadouro da luta dos camponeses por terra, emprego e renda.

Ao andar pelas ruas de Windischholzhausen, em 1978, vi uma placa em que os locais homenageavam seu filho ilustre, que chamavam Fritz Müller-Desterro. Porque Desterro? Porque ele lecionou, durante quatro anos, no Liceu da Vila de Nossa Senhora do Desterro.

Pouca gente sabe que o sonho de Fritz Müller era formar-se médico para embarcar num navio e sair, mundo afora, a salvar vidas e aliviar o sofrimento de pessoas atormentadas. Esse anseio só não se realizou porque, embora formado em Medicina, ao colar grau negou-se a proferir a expressão “que assim me iluminai Deus em seu sacrossanto evangelho”, acrescida ao juramento de Hipócrates. Num ambiente convulsionado pelas arbitrariedades da igreja e do governo alemão, suas convicções agnósticas e revolucionárias fizeram com que o reitor da Universidade lhe negasse o diploma. Sem poder clinicar, virou professor particular e passou a sonhar com um lugar onde suas convicções não representassem um entrave. Foi quando Ot to Hermann Blumenau o convidou para integrar o projeto de colonização.

A mata exuberante do Vale do Itajaí encantou Fritz Müller. Foi ali que ele observou que várias espécies de borboletas se mimetizavam, produzindo um cheiro desagradável, para defenderem-se de seus predadores. A comprovação dessa tese levou o mundo acadêmico a denominá-la de “mimetismo mülleriano”.

Preso à cama, em razão de grave doença, Darwin solicitou à esposa Emma que lesse o trabalho de seu colega blumenauense, recém-publicado na Alemanha, com o título “Für Darwin”, no qual filiava-se à teoria cada vez mais consagrada da “origem das espécies, por meio da seleção natural”. Entusiasmado com o que lera, na primeira das 58 cartas que enviou a Fritz Muller, ao longo de 17 anos de intensa troca de correspondência, pediu autorização para publicá-lo na Inglaterra sob o título “Facts and arguments for Darwin”. Anos depois, Darwin atribuiu-lhe o título de “Príncipe dos observadores”.

José Alfredo Abrão, companheiro de muitas jornadas, é o autor do roteiro e diretor do belíssimo curta-metragem "Fritz", uma singela, mas pungente, homenagem a este grande teuto-catarinense.

O filme começa pelo fim, com Fritz delirando com bromélias em seu leito de morte, e segue com memórias e reflexões inspiradas em fatos de sua biografia: a convivência com os nativos na mata virgem, com os colonos e religiosos nas cidades; suas pesquisas com crustáceos nas praias da então Nossa Senhora do Desterro, suas longas viagens pela província, sempre a pé e descalço. Outras cenas são puramente imaginárias, como a aparição dos espectros de sua finada filha Rosa e do próprio Darwin, com quem troca vagas reflexões pessoais e filosóficas.

Quem não viu, veja. Vai conhecer uma grande figura humana e uma parte de nossa história.


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