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28/09/2010 | 00:00

Pesquisadores brasileiros concluem Censo da Vida Marinha

Resultados finais serão apresentados entre os dias 4 e 6 de outubro, em Londres

 

Cientistas brasileiros participam, entre os dias 4 e 6 de outubro, em Londres, do encerramento mundial do programa Censo da Vida Marinha (Census of Marine Life). O evento inicia no dia 4, com coletiva de imprensa transmitida ao vivo pelo (www.coml.org) a partir das 12h30, horário de Londres (16h30 de Brasília). Na ocasião, pesquisadores de todo mundo irão apresentar e debater a relevância das realizações globais do programa para o conhecimento da diversidade marinha, sua utilização e sua preservação.

 

Nos dois dias que se seguem serão apresentados os resultados e contribuições específicas dos 17 projetos apoiados pelo programa: os quais estudaram, o que viveu, o que vive e o que viverá no futuro em inúmeros ambientes marinhos do planeta desde costeiros até abissais, desde tropicais até polares. Cientistas brasileiros têm participado ativamente em vários destes projetos, incluindo o Mar-Eco. Ele está voltado ao estudo dos padrões e processos da diversidade associada à Cordilheira Meso-oceânica do Atlântico, um dos ambientes profundos mais remotos da Terra.

 

Essa cadeia de montanhas submarinas se estende por 14 mil quilômetros, desde a Islândia até a Antártica, e se elevam a dois mil metros de altura do assoalho oceânico no centro do Atlântico. “Além de exercer forte influência nos padrões de circulação e na distribuição da vida marinha profunda, esta cadeia de montanhas submersas constitui uma das feições mais proeminentes e menos conhecidas do fundo oceânico”, explica o Angel Perez, pesquisador do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar), da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), de Santa Catarina.

 

O projeto, existente desde 2001, tem se concentrado na exploração da porção da cadeia de montanhas situada entre a Islândia e o Arquipélago dos Açores. Perez integrou-se ao grupo que lidera o Mar-Eco em 2006, com o desafio de expandir esses estudos para o Atlântico Sul. “Trata-se de uma iniciativa inédita para o Atlântico Sul e consiste no levantamento da biodiversidade e da distribuição de organismos dos ecossistemas profundos associados às estruturas geológicas da cadeia de montanhas meso-oceânicas”, aponta. "É um oceano novo. Geologicamente foi o último a surgir na separação dos continentes." Por isso, ele espera encontrar variações de espécies em relação às catalogadas no oceano profundo do Atlântico onde o trabalho está praticamente encerrado.

 

O programa Mar-Eco Atlântico Sul é formado por uma equipe de cientistas da América do Sul e África e é capitaneada pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), de Santa Catarina. Esta equipe tem, durante os últimos três anos, colaborado para o desenvolvimento de uma estratégia para a amostragem da biodiversidade do cume sul do Médio-Atlântico que compreende desde bactérias até as baleias. “Trata-se de uma iniciativa inédita para o Atlântico Sul e consiste no levantamento da biodiversidade e da distribuição de organismos dos ecossistemas profundos associados às estruturas geológicas da cadeia de montanhas meso-oceânicas”, descreve o pesquisador.

 

Em novembro de 2009 esta estratégia foi colocada em prática pela primeira vez como fruto de uma parceria estabelecida entre o Censo da Vida Marinha, o projeto Mar-Eco e o Instituto Shirshov de Oceanologia (Academia de Ciências, Rússia). Durante 34 dias, cientistas brasileiros, uruguaios, neozelandeses e russos estiveram embarcados no navio oceanográfico russo Akademik Yoffe, no que foi a primeira viagem de estudos sobre a vida na cordilheira meso-oceânica do Atlântico Sul.

 

Na ocasião eles percorreram cerca de 4,3 mil quilômetros levantando dados físico-químicos, peixes, microorganismos e invertebrados associados ao fundo do mar amostrados em vinte e uma estações de coleta dispostas ao longo da cordilheira, em profundidades que variavam de mil a três mil metros.

 

Em cada uma delas foi feita prospecção com draga de fundo para capturar organismos que vivem junto ao fundo, além de amostras de sedimentos. Também foram lançadas redes com o objetivo de capturar e trazer à superfície animais que vivem em suspensão organismos, o zooplâncton, nas camadas profundas de água. Ao longo do trajeto do navio também foram registrados dados contínuos sobre os mamíferos marinhos como baleias e golfinhos habitantes das áreas oceânicas.

 

Todo o material foi catalogado e está sendo estudado em terra para avaliação do que poderá, literalmente, trazer a tona inúmeras descobertas. Participam deste trabalho mais quatro professores pesquisadores do CTTMar/Univali além de cientistas de outras 12 instituições de pesquisa do Brasil, Uruguai, Rússia, África do Sul, Noruega e Nova Zelândia.

 

“Trata-se de um projeto de grande relevância técnico-científica, cujas descobertas contribuirão significativamente para o conhecimento da biodiversidade marinha e conseqüentemente para os avanços na área. Temos acompanhado de forma muito próxima este importante projeto e é, para a instituição, motivo de orgulho e satisfação termos nossos pesquisadores envolvidos em projetos desta magnitude”, resume Valdir Cechinel Filho, Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura (ProPPEC) da Univali.

 

Pesquisa

 

Os objetivos da pesquisa levam em conta a necessidade de suprir a escassez de conhecimento da biodiversidade de águas profundas, ou seja, o que existe submerso no centro do Atlântico Sul: “Este conhecimento é importante uma vez que as áreas costeiras são mais antigas e podem servir como fontes de espécies colonizadoras para os habitats recentemente formados pela separação das placas tectônicas que ocorrem continuamente nestas cadeias de montanhas”, relaciona Angel Perez.

 

Angel destaca a importância de algumas estruturas geológicas associadas à cadeia central que não existem no Atlântico Norte: “A Elevação do Rio Grande no lado oeste e a Cadeia Walvis no lado leste do Atlântico Sul são cadeias de montanhas perpendiculares que ligam o centro do oceano até a costa, tanto no litoral brasileiro como na costa da África, e que podem ter importante papel na dispersão da vida marinha profunda”, argumenta.

 

Outro ponto importante, segundo o pesquisador, é o fato do Atlântico Sul ser o último oceano a surgir na separação dos continentes conectando esse oceano a outros três já existentes: o Índico, o Antártico e o Pacífico. O projeto Mar-Eco Atlântico Sul deve ser um dos muitos que terão continuidade na segunda fase do Censo da Vida Marinha.

 

Projeto Mar-Eco Atlântico Sul

 

Em novembro de 2009, realizou a travessia do Atlântico Sul. Resultados preliminares já estão disponíveis e serão apresentados nos dias 5 e 6 de outubro durante o evento de encerramento durante do Censo da Vida Marinha. Estes incluem:

 

  • Cerca de 9 mil espécimes foram coletadas pelos amostradores de fundo e de meia-água.
  • Até o momento, 175 espécies de peixe, 44 espécies de lulas e polvos e 180 invertebrados bentônicos foram identificados.
  • Cerca de 300 bactérias foram isoladas de sedimento de fundo, 50 deles apresentando potencial para uso biotecnológico.
  • Espécies e gêneros de invertebrados bentônicos foram registrados pela primeira vez no Atlântico Sul incluindo um pepino-do-mardo gênero Pannychia cuja existência era apenas conhecida no Oceano Índico.

 

Caminho a seguir

 

  • Completar os estudos sobre a diversidade e distribuição da macrofauna da cordilheira  Meso-Atlântica do sul a partir das amostras coletadas durante o cruzeiro de 2009.
  • Estudar a diversidade de bactérias coletadas em zonas profundas e prospectar esses organismos e suas moléculas para aplicações biotecnológicas.
  • Estudar a fauna associada às montanhas submarinas da Elevação do Rio Grande a bordo do Navio de pesquisa brasileiro “Cruzeiro do Sul”.
  • Dar continuidade ao legado projeto Mar-Eco e buscar novas oportunidades para amostrar mais e melhor as profundezas pouco conhecidas do Oceano Atlântico Sul.

 

Descobertas documentada por novos dados e coleções do projeto do Mar-Eco Mundial incluem:

 

  • Em torno de mil espécies, que vão desde pequenos crustáceos às baleias associados com a cordilheira.
  • Até agora, 32 espécies foram descritas como novas para a ciência. O número total provavelmente irá aumentar para cerca de 40.
  • Composição da fauna de meia água e fundo varia com a profundidade e a latitude e em relação às frentes oceanográficas.
  • Densidade de peixes e invertebrados pelágicos é elevada ao longo das encostas da cordilheira, indicando agregação perto de topografia acidentada.
  • Maior abundância de animais ocorre em zonas de frentes oceanográficas.
  • Composições das espécies da megafauna podem ser diferentes nas encostas orientais e ocidentais da cordilheira.
  • Muitas espécies habitam tanto as cordilheiras meso-oceânicas como os taludes continentais, mas evidências genéticas mostram a existência de populações reprodutivamente isoladas nos dois habitats.

 

Sobre o Censo da Vida Marinha (Census of Marine Life)

A Década da Descoberta (A Decade of Discovery)

 

No final de 1990, pesquisadores da vida marinha partilharam suas preocupações a respeito da compreensão que a humanidade tinha sobre a vida nos oceanos. Muitas perguntas estavam por serem respondidas. Entre elas: Que tipo de vidas habitam os oceanos? Onde cada espécie vive? e, quanto de cada forma de vida?

 

No ano de 2000, os cientistas convergiram para uma estratégia, um censo em todo o mundo para avaliar e explicar a diversidade, distribuição e abundância da vida marinha. Eles organizaram-se em torno de três grandes questões: O que viveu nos oceanos? O que vive nos oceanos? O que vai viver nos oceanos? Feito isso, eles projetaram um programa para explorar os limites para o conhecimento da vida marinha estabelecendo o prazo de encerramento para 2010.

 

Nesse tempo, foram realizadas mais de 540 expedições em todos os reinos do oceano, e parcerias com outras organizações e programas. Os 2,7 mil cientistas de mais de 80 nações, que se tornaram a comunidade do Censo, aumentaram e organizaram o que se sabe sobre a vida nos oceanos. Eles têm atraído bases de referência para medir as mudanças da vida marinha, após mudanças naturais e ações humanas. Eles, sistematicamente, delinearam, pela primeira vez, o oceano desconhecido.

 

Algumas questões pontuais

 

Antecedentes / Visão

 

  • Criado para suprir a necessidade de entender a vida nos oceanos e melhorar sua gestão, com conhecimentos sólidos.
  • Fundado em 2000 com o objetivo de encerramento em 2010.
  • Avaliou e explicou a diversidade, distribuição e abundância da vida marinha no passado, presente e futuro.
  • Foram realizadas mais de 540 expedições em todos os reinos do oceano.
  • Contou com a parceria de várias organizações e programas.
  • 2,7 mil cientistas de mais de 80 países compõem a comunidade do Censo da Vida Marinha.
  • Além de novos conhecimentos, o Censo organizou sistematicamente o que se sabe sobre a vida nos oceanos.
  • O Censo tem atraído linhas de base para medir e monitorar alterações na vida marinha.
  • Mostrou que um levantamento global da vida do oceano era possível.

 

Diversidade

 

  • Os esforços do Censo na agregação e organização de informações resultou em uma nova estimativa das espécies marinhas conhecidas (cerca de 250 mil - anteriormente cerca de 230 mil).
  • O Censo encontrou mais de 6 mil espécies potencialmente novas em termos de descrições familiares pouco exploradas e completou a formalização de mais de 1,2 mil.
  • Quase 30 milhões de observações, permitiram que o Censo de compilasse as primeiras comparações regionais e mundiais de diversidade de espécies marinhas.
  • O Censo aplicou a análises genéticas (código de barras) para distinguir entre as espécies, identificar possíveis novas espécies, e para criar o primeiro "mapa" da estrutura genética da diversidade marinha.
  • Ferramentas genéticas foram particularmente úteis para identificar os diferentes tipos de micróbios, incluindo bactérias e archaea.
  • Enquanto o Censo pode confirmar que há provavelmente pelo menos um milhão de espécies nos oceanos (conhecidos e ainda a serem descobertos - não incluindo bactérias e archaea), ainda não podemos estimar. Confiantemente um limite superior do número total de espécies.

 

Distribuição

 

  • O Censo encontrou a vida em todos os lugares que pesquisou.
  • O Censo utilizou acústica (som), satélites e etiquetas eletrônicas para controlar milhares de animais e realizar o mapeamento de suas rotas migratórias.

 

Abundância

 

  • A análise histórica revelou queda no número de cores e tamanhos de organismos marinhos, mesmo dentro de uma geração humana.
  • O Censo também documentou a recuperação de algumas espécies após esforços de gestão e conservação que estão em vigor.
  • O impacto humano sobre a vida marinha começou mais cedo e é muito mais amplo do que se pensava antes do Censo.
  • Investigadores do Censo descobriram que a fotossíntese do fitoplâncton, perto da superfície diminuiu globalmente.

 

Legados

 

  • O Censo construiu o maior repositório de dados sobre espécies marinhas e fez dela uma infra-estrutura acessível ao público para pesquisas futuras, que os governos se comprometeram a manter.
  • Ele desenhou linhas de base para ajudar as nações e as convenções internacionais a selecionar áreas e estratégias para uma maior proteção da vida marinha.
  • O Censo mostrou uma nova tecnologia (por exemplo, código de barras do DNA, as matrizes de monitoramento acústico e sistemas, estruturas de acompanhamento Autónoma Reef para padronizar a avaliação global da vida do recife) que mostram o oceano. Observando os sistemas podem observar a vida.
  • O Censo criou uma comunidade de cientistas com diferentes interesses de diferentes nações, sob o mesmo guarda-chuva.
  • O Censo tem multiplicado os peritos qualificados, desenvolvimento de tecnologias e difusão de descoberta e monitoramento, a melhoria do acesso a dados e decisões informadas sobre a conservação das espécies marinhas e as regiões.


Fonte: Assessoria de Imprensa Univali

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