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Geral
04/02/2019 | 16:26

A reeleição e os reféns da popularidade

Murilo Pereira

 

Passado o período eleitoral e as consequentes transições de poder nas esferas estadual e federal, é chegada a hora de voltar a olhar para os problemas do nosso país e buscar soluções para ele. Passamos por um momento de crises econômica, ética e moral, para as quais vejo esperança de vitória, mas as medidas que o poder público deve adotar precisam atingir diversas esferas – entre elas, a própria política.

Não é recente meu posicionamento acerca dos processos eleitorais, especialmente sobre a reeleição, mas penso que o momento é propício para voltar a tocar nesse assunto e levantar a discussão. Em princípio, eu, Sergio Murilo Pereira, hoje vereador na cidade de Itajaí, mas antes de tudo um cidadão, defendo que os membros do poder executivo não poderiam concorrer a reeleições em sequência.

A reeleição torna o ocupante do cargo um refém da própria popularidade, necessária para buscar a recondução ao cargo pela população no pleito eleitoral seguinte. A princípio isso não seria um grande problema, porém, governar uma cidade, um estado ou um país, requer em alguns momentos, medidas que podem desagradar parte da população – especialmente quando se busca recuperar forças num período de crise, como vivemos atualmente.

O problema é que alguns governantes não adotam as medidas necessárias, fazendo manobras paliativas ou empurrando o problema sem dar a devida solução até que seja literalmente obrigado, ou, com sorte, até que o próximo governante assuma aquela bomba. Ou seja, dá-se preferência à reeleição do que aos atos necessários para o bem-estar da sociedade.

Já para o poder legislativo, não vejo a reeleição em sequência como um problema. Acredito que o trabalho do legislador – vereador, deputado estadual, federal e senador – é uma construção um pouco mais longa, e a permanência durante mais tempo no cargo permite até mesmo resultados que beneficiem mais a população. Porém, destaco que não vejo problema em uma reeleição, mas sim em seguidas reeleições.

Sou contra mais de uma reeleição em sequência para os legisladores, primeiro para garantir a oxigenação nos poderes com novos representantes, e em segundo para evitar a acomodação e perpetuação do político naquele cargo específico. Se ele deseja concorrer, que busque novos cargos para trabalhar de outra forma pela população – e desenvolva seu trabalho com excelência e responsabilidade para demonstrar que é merecedor de mais votos.

Tanto para o poder executivo quanto para o legislativo, acredito ainda que se o cidadão desejar voltar a se candidatar novamente após passada uma legislatura, não haveria nenhum problema.

A partir deste ponto, alguns outros aspectos precisariam ser revistos na política, sobre os quais tenho também meus pontos de vista. Em primeiro lugar, ao limitar as reeleições, penso ser benéfica a extensão dos mandatos de quatro para cinco ou seis anos, um período que permitiria a concretização de projetos de grande porte.

Penso também que deveríamos estudar a possibilidade de unificar as eleições. Uma questão indiscutível é o alto custo de uma eleição, e ao menos teríamos esse custo a cada quatro (ou cinco, seis) anos, e não a cada dois, como temos hoje. E outro ponto seria evitarmos que ocupantes de cargos públicos deixassem seus mandatos no meio para concorrer a outros cargos, ou ainda que usem as eleições que acontecem no meio de seu mandato simplesmente para projetar seu nome pensando em uma reeleição vindoura.

Compartilho com você essa reflexão, em primeiro lugar, porque devo transparência aos cidadãos, meus eleitores ou não, por ocupar um cargo público. Mas também tenho a intenção de provocar em você, que leu até aqui, a mesma reflexão.

A democracia brasileira ainda é jovem e, apesar de termos uma rica história na política, nosso amadurecimento é lento. Para acelerarmos esse processo de crescimento e consolidação, é necessário que cada vez mais o cidadão tenha interesse na política, forme suas próprias opiniões e participe da construção do seu município, estado e país. Pense nisso!

 


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