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Geral
20/08/2018 | 16:41

Prática inclusiva de ensino de fotojornalismo resulta em mostra de autoria de alunos cegos

Quem disse que enxergar é condição obrigatória para registrar momentos com uma câmera fotográfica está enganado. Com vontade e apoio mútuo, alunos cegos da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) aprenderam a fotografar, graças à prática inclusiva de ensino proposta pelo professor da disciplina de Fotojornalismo, Eduardo Gomes. Ele criou uma metodologia, adaptou equipamentos e acompanhou os acadêmicos de Jornalismo Felipe Cristiano da Silva e Carla Chierosa Antunes, na captação e produção das imagens que integram uma exposição fotográfica. A mostra abre para visitação nesta quarta-feira, dia 22 de agosto, às 11h30, na Biblioteca Central da Univali, Campus Itajaí.

O docente conta que já na primeira aula, a partir do pedido dos alunos com deficiência, passou a descrever as imagens que apresentava, o contexto e sua importância. Depois ele buscou alternativas para adaptar a câmera. Em princípio, pensou em colocar braile nos equipamentos, mas os estudantes não sabem ler o sistema de escrita tátil. Então, o professor pôs fita emborrachada em alto relevo nas principais funções da câmera, diferenciou o zoom por tamanho da fita e eles passaram a fotografar no modo programado. "Fiz um gabarito com as funções básicas que precisavam mexer e depois eles mesmos me devolveram, porque memorizaram as funções. O papel deles foi de enquadrar, escolher a cena e bater a foto. Sempre saíamos juntos, eu explicava o contexto, mas eram eles que escolhiam o que queriam registrar", explica Gomes.

Felipe Cristiano e Carla fizeram todos os trabalhos propostos na disciplina junto com um acadêmico de Jornalismo, sob supervisão do professor. A turma foi desafiada a desenvolver uma pauta no Campus da Universidade; eles cobriram a regata Volvo Ocean Race, que ocorreu em Itajaí, em abril deste ano; fizeram um trabalho em estúdio com retrato ambientado de uma personalidade da região, que no caso deles foram dois treinadores de cão-guia do Instituto Federal Catarinense (IFC); e por último, elaboraram uma grande reportagem. O tema escolhido para a grande-reportagem foi a escola de cão-guia, que demonstrou onde ficam os cães, como funciona o treinamento, a adaptação, a equipe e toda a infraestrutura.

 

Ao final, a equipe apresentou os resultados aos demais acadêmicos da turma. Segundo o professor, o trabalho dos estudantes fez com que o grupo repensasse uma série de coisas, gerando mais engajamento nos demais alunos. Gomes afirma que a metodologia que ele utilizou com os estudantes cegos é alternativa, criada e adaptada por ele mesmo. O docente fala que teve também como referência o trabalho do fotógrafo Evgen Bavcar, que é cego e o inspirou a fomentar esta prática com os acadêmicos.

"Para mim no começo foi um desafio e depois uma imensa alegria. Precisou de uma atenção extra minha e deles, mas foi uma lição de vida e aprendi muito. Embora eles não estivessem enxergando, fizeram, por meio de suas fotos, com que outras pessoas conheçam algo que é muito importante para eles, os cães-guia", salienta Eduardo Gomes.

Carla admite que ficou apreensiva quando soube que teria que cursar a disciplina de "Fotografia", principalmente porque enxergou durante 18 anos de sua vida, é cega há apenas sete anos, e sempre gostou muito de foto. "O professor fez a coisa acontecer, a dedicação dele nos deu ânimo e vontade de seguir. O pico de emoção foi quando ele trouxe a câmera adaptada. Isso sim é acessibilidade e tecnologia inclusiva de verdade", defende.

 

Para Felipe Cristiano, a experiência de trabalhar com fotografia foi válida e possível baseada nas condições proporcionadas pelo professor. "O esforço e os meios criados pelo Eduardo fez com que mostrássemos que somos capazes. Acredito que conseguimos alcançar as expectativas da disciplinar e, de certa forma, até surpreender as pessoas com este trabalho", comenta o estudante.

Exposição integra programação da Semana da Pessoa com Deficiência na Univali

A mostra, composta por 26 fotografias, seguirá aberta à visitação até o dia 31 de agosto e integra a programação da Universidade, alusiva à Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, por meio do programa Uninclui.

A cerimônia de abertura da mostra ocorre na quarta-feira (22), às 11h30. A exposição ficará no Hall da Biblioteca até o dia 31 de agosto, com visitação gratuita, de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 22h30, e aos sábados, das 9h às 18h. A proposta é que a mostra se torne itinerante pelos campi da Univali.


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