quinta, 28 de março de 2024
Geral
Arte: Leandro Francisca
16/02/2018 | 09:59

O perigo das selfies com as capivaras

Não é preciso conhecer muito Itajaí para saber que a cidade tem suas tradicionais capivaras que se banham no rio Itajaí-Açu e nos manguezais no caminho para Cabeçudas. Esse animalzinho simpático, que muitas vezes descansa sobre o gramado e se alimenta com a família, é visto como uma marca da cidade. Inclusive, diversas pessoas se aproximam e tiram selfies com o roedor. Essa aproximação, muitas vezes, é arriscada e pode fazer com que o “fotógrafo curioso” adquira uma grave doença.
 
A capivara é um animal silvestre e a vida em natureza a expõe a diversos hospedeiros. De forma indireta, elas funcionam como reservatórios de bactérias do grupo das riquétsias, causadoras da zoonose febre maculosa. Essas bactérias estão presentes em pulgas e carrapatos. O mais comum é o carrapato estrela, que fica preso a pele da capivara, mas que vez ou outra troca de hospedeiro.
 
Essa aproximação extrema de moradores e turistas às capivaras pode fazer com que o carrapato se prenda a roupa e, posteriormente, pique alguma parte do corpo. “A transmissão ocorre quando o carrapato permanece aderido ao hospedeiro por, no mínimo, quatro horas. A doença também não se transmite de pessoa a pessoa”, explica Pablo Sebastian Velho, professor de medicina da Univali e especialista em Infectologia.
 
Os sintomas são sentidos repentinamente e incluem: febre elevada, dor de cabeça, dores musculares, mal-estar generalizado, náuseas, vômitos, manchas avermelhadas no corpo e pequenos sangramentos. Nos casos mais graves, sem tratamento precoce, ocorre inchaço dos membros inferiores, aumento do volume e dor abdominal com diarreia associada, insuficiência renal e manifestações neurológicas. “Cerca de 80% desses, se não diagnosticados e tratados a tempo, evoluem para óbito”, afirma o infectologista.
 
A orientação do especialista é que, ao perceber alguns desses sintomas, a pessoa não deve se automedicar e ir ao médico para tratar o mais rápido possível. O tratamento precoce aumenta as chances de se livrar da doença o quanto antes. Portanto, ao perceber carrapatos na pele, a pessoa deve coletá-los com luvas e pinças, acondicioná-los em um frasco e encaminhá-los para o laboratório de referência.
 
“Não o esmague com as unhas, pois o esmagamento, pode haver liberação das bactérias, que têm capacidade de penetrar através de micro lesões na pele. Também não force o carrapato a se soltar ao aproximar agulha ou palito de fósforo quente. O estresse sofrido pelo artrópode faz com que ele libere grande quantidade de saliva, o que aumenta as chances de transmissão de riquétsias. Retire-os, com cuidado, por meio de leve torção, para liberar as peças bucais (da boca).”
 
A Secretaria de Saúde de Itajaí, por meio da vigilância epidemiológica, notificou dois casos de febre maculosa no município ano passado. Os enfermos passaram por tratamento adequado e, felizmente, não houve óbito.
 
Animais domésticos
 
Os nossos animais domésticos também podem sofrer com a febre maculosa causada pelo carrapato estrela. Os sintomas mais característicos são dor articular aguda (o pior sintoma), acompanhado de letargia (extremo cansaço), ocasionada pela anemia e febre. É necessário levar o animal ao veterinário para que se inicie o tratamento e aumente as chances de vida do bichinho. “O tratamento se baseia no uso de medicamentos e, na maioria dos casos, transfusão sanguínea” explica Lais Pena Paganelli, veterinária na Clínica Veterinária Homeopatas. Nesses casos, afaste seu animal doméstico das capivaras.
 
Comportamento das capivaras
 
A capivara tem um comportamento tranquilo por natureza, no entanto a proximidade das pessoas com as crias desses animais pode fazer com que ela seja agressiva e desenvolva um comportamento de proteção parental. É preciso que o espaço delas seja respeitado a fim de minimizar os riscos de acidentes. Em casos extremos decorrentes de ameaças humanas, as capivaras podem morder, utilizando os dentes incisivos, principal devesa dos roedores.
 
Proteção às capivaras
 
Qualquer espécie animal é protegida pela constituição federal em seu art.225 e por legislações específicas, caso da Lei Federal 9605/1998 que trata dos crimes contra o meio ambiente incluindo os crimes contra a fauna. No âmbito municipal, existe a Lei 5527/2010, que também prevê direitos e amparos aos animais, proveniente do código de proteção animal.
 
A Fundação Municipal do Meio Ambiente de Itajaí (Famai), que tem como uma das funções a proteção dos animais selvagens, atualmente não dispõe de uma legislação específica ou um projeto direcionado às capivaras, mas utiliza dessas duas leis para proteger o roedor.
 
Uma forma de proteção são os tratamentos que as capivaras são submetidas quando necessário. “Esses animais podem ser resgatados pela Famai e/ou Secretaria. Municipal de Saúde e serem encaminhados para a Unidade de Acolhimento Provisório de Animais para tratamento e acompanhamento”, afirma Andréia Paula Resch, diretora de Defesa Animal da Famai.
 
Texto: Matheus Petter

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