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06/12/2017 | 15:26

O médico que enxerga o câncer

De acordo com estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), as neoplasias acometeram mais de 595 mil pessoas no Brasil em 2016. Projeções como a do Observatório da Oncologia, por sua vez, apontam que o câncer deve ser tornar a principal causa de mortes até 2029, com uma taxa de mortalidade de tumores chegando a 115 para cada 100 mil habitantes.

A luta para evitar tantos óbitos por conta do câncer passa por diversas esferas. Entre elas está um especialista que é pouco conhecido pela população, mas peça fundamental exatamente por conta de sua capacidade de “enxergar o câncer”. O médico patologista, como é chamado, é responsável por analisar de maneira minuciosa as amostras de tecidos provenientes de biópsias, empregando técnicas específicas para processamento desses fragmentos de maneira que seja possível visualizar informações importantes no microscópio.

Segundo Clovis Klock, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), é apenas após esse trabalho extenso e humano que se chega a um laudo anatomopatológico. “Esse é um documento médico imprescindível para a oncologia. Nenhum tratamento começa e nenhuma decisão é tomada antes desse trabalho do patologista. Mais do que apontar se uma amostra é ou não câncer, cabe a esse profissional especificar o nível de agressividade do tumor e até mesmo indicar qual a melhor conduta terapêutica a ser tomada”, explica.

Ele ainda aponta que, exatamente por conta da necessidade do apoio desse profissional, os patologistas são procurados por colegas de outras áreas para avaliar casos específicos. Oncologistas, ginecologistas, urologistas e outros profissionais médicos procuram a especialidade para estudos de nódulos da mama, lesão de colo de útero ou suspeita de câncer de próstata, por exemplo.

Além de atuar na linha de frente da identificação e prevenção, o especialista também exerce atividade fundamental durante cirurgias e direcionamento da terapêutica. “No primeiro caso, auxiliamos os cirurgiões na tomada de decisões, a partir de diagnósticos rápidos. Posteriormente, descrevem-se aspectos necessários para o conhecimento do médico que acompanhará e tratará o individuo, informando se a lesão foi retirada por inteiro ou não. Estes dados são usados para definir se será necessária quimioterapia ou radioterapia, se a doença é agressiva e as chances de cura”, conta Klock.

Castelo de cartas
Segundo o presidente da SBP, embora a valorização da patologia seja comum entre as especialidades médicas, o mesmo não se reflete na esfera governamental. Ele explica que as diversas etapas da oncologia podem ser vistos como um castelo de cartas cujo alicerce corresponde ao trabalho do patologista. Se essa base não é bem construída e reforçada, a efetividade de todos os outros procedimentos é posta em xeque. Um exemplo apontado por ele é que procedimentos mais onerosos, como cirurgias, e sessões de quimioterapia ou radioterapia, são definidos após o laudo.

“Chegar ao melhor diagnóstico possível é a missão dos médicos patologistas, mas, para tanto, existem muitos fatores envolvidos, como investimento em formação continuada e atualização, estrutura laboratorial adequada e até mesmo o emprego de materiais e insumos caros. Estamos falando de um cenário em que a remuneração repassada aos laboratórios por procedimentos e análises anatomopatológicas é, muitas vezes, irrisória. É uma realidade extremamente perigosa para a maior parte da população brasileira, que é usuária do SUS”, finaliza.

Sobre a SBP
Fundada em 1954, a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) atua na defesa da atuação profissional dos patologistas, oferecendo oportunidades de atualização e encontros para o desenvolvimento da especialidade. Desde sua instituição, a SBP tem realizado cursos, congressos e eventos com o objetivo de elevar o nível de qualificação desses profissionais.

 


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