sexta, 29 de março de 2024
Geral
18/12/2015 | 09:40

Prepare-se: o verão está chegando mais chuvoso e quente que o normal

Quando o assunto é clima, condições marítimas e risco de enchentes, uma das autoridades em Itajaí é o geógrafo Sergey Alex de Araújo. Professor da Univali, comanda o laboratório de climatologia da universidade. Ele é o convidado desta semana para falar sobre o início do verão, no próximo dia 21. Araújo explica por quais motivos 2015 teve tantos dias chuvosos e a perspectiva para este verão. Também fala sobre o calor, que realmente está acima do normal, e informa por que os níveis de radiação em Santa Catarina são mais elevados, além de mencionar as peculiaridades de Itajaí no quesito mar.

Jornal dos Bairros – Sabemos que o El Niño fará com que o verão seja muito chuvoso. Tivemos uma demonstração disso em outubro. Os meses de dezembro e janeiro podem ter ainda mais chuva?

Sergey – O El Niño continuou se fortalecendo em novembro; a partir de dezembro ele começa a perder intensidade cada vez mais, no mínimo até abril. Depois de abril o El Niño entra no período de neutralidade climatológica. Em termos de temperatura, todos os modelos indicam que será um verão quente, será um verão acima da média. Em alguns meses, a mínima chegou a 3° acima da média histórica das mínimas. Por exemplo, de manhã cedo era para estar mais friozinho, mas está calor. Isso continua nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro e adentrando março. Em termos de chuva, todos os modelos indicam que teremos chuva acima da média histórica. Este ano, só janeiro, abril e agosto que tiveram chuva abaixo da média histórica, o resto foi tudo acima, mas estava próximo da normalidade. Todos os outros meses nós tivemos chuva acima da média histórica. É claro que o mês que mais choveu foi outubro. Contudo, dezembro ainda podemos ter um pouco mais de chuva em termos de quantidade acima da média. Já para janeiro e fevereiro teremos chuva em pancadas, diferente de outubro. Neste ano nós estamos batendo os recordes em dias de chuva. Em outubro era para chover em torno de 14 dias, mas dos 31 dias, choveu 28. Em maio era para chover 12 dias, mas de 31 dias, choveu 25. Os dias de chuva estão ficando sempre acima de 20. Nas médias, o mês que mais chove é janeiro, que são 18 dias de chuva ou pancadas. Continuamos no verão com chuva acima da média história, dezembro deve ser com chuva mais constante, mas a partir do verão teremos chuva em forma de pancadas, não chuvas direcionadas.

Jornal dos Bairros – Depois que saímos do El Niño existe um período de transição? Em seguida já entramos no La Niña?

Sergey – Sim, existe um momento de transição. O El Niño sempre se intensifica em dezembro, próximo do Natal. O período El Niño vai de 13 a 18 meses e depois ele vai para uma fase de transição, que chamamos de neutralidade climatológica. O El Niño é o aquecimento das águas do pacífico, para considerar esse fenômeno é preciso, na teoria, que tenhamos de 0,5° positivo; 0,5° para baixo é La Niña. Hoje em dia, nós já dizemos que tem que ser acima de 1° positivo no Oceano Pacífico, Equatorial e Tropical. Neutralidade é quando está menos de 1° positivo até 1° negativo. Ele fica mais um período de até três meses que pode ocasionar em uma La Niña ou voltar para o El Niño. Ano passado tivemos um El Niño fraco, foi para a neutralidade e voltou para o El Niño. Este ano temos esse fenômeno em um nível moderado e forte. Agora, ele volta para a neutralidade. [Esses fenômenos sempre existiram?] Sim. Quando começaram as navegações em toda a nossa costa do Pacífico, esses fenômenos já estavam descritos nos diários de bordo. Com El Niño ou não, você chegava mais rápido ou menos rápido na costa pacífica. O El Niño está ligado aos ventos alísios, do Pacífico, quando há esse vento muito forte, nós temos o La Niña, quando é muito fraco temos o El Niño.

Jornal dos Bairros – Por que em Santa Catarina os níveis de radiação são mais altos? Existem regiões no Estado onde esses níveis são mais elevados?

Sergey – Acontece que nós temos um chamado buraco de ozônio, na realidade é uma dimensão da densidade de ozônio. O ozônio é uma partícula de três moléculas de oxigênio, que está em determinada camada acima da nossa, ela está no limite da estratosfera. O ozônio filtra o ultravioleta, tanto o A quanto o B. O ultravioleta é uma radiação pequena que consegue penetrar na pele, ocasionando o câncer de pele. O sul do Brasil detém os recordes desse câncer, depois disso é a Austrália, que está próximo porque está na mesma zona austral. Na Linha do Equador o planeta é maior, ali tem mais calor, sendo assim a atmosfera expande mais, com nuvens mais altas. Quanto mais eu vir para as altas latitudes, ou seja para o sul em direção aos polos, menos energia do sol eu recebo. Como eu recebo menos energia, lembrado que nossa atmosfera é gás e ele expande e contrai, há um ar mais frio, então a atmosfera está mais próxima do solo. Usamos produtos na agricultura que liberam componentes químicos e atingem a camada de ozônio quando entram em contato com a atmosfera, desmembrando esse ozônio, como é o caso de outros gases na atmosfera. Se o ozônio está em menor densidade, mais radiação ultravioleta entra. Por isso temos altos níveis de câncer de pele.

Jornal dos Bairros – O que podemos esperar das condições marítimas, tanto para a navegação quanto para o surfe neste verão?

Sergey – Para o sul do país até Laguna temos condições muito ruins de mar. Do Cabo de Santa Marta [Laguna] para cima, as condições melhoram. Como estamos justamente em uma zona frontal, ou seja, uma área de frentes frias, faz com que tenhamos ventos mais fortes e áreas de baixa pressão, esse vento interfere na ondulação. Quanto mais vento, mais ondulação. Por estarmos nessa zona, nós sempre teremos ondulações maiores do que o resto do país. Somos suscetíveis a ondas maiores, que é bom para o surfe. Em Itajaí tem um impasse, às vezes a onda bate em Florianópolis, mas não chega diretamente aqui. Nós pegamos muito vento nordeste e leste. Futuramente, temos um trabalho realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro que analisa os dados dos últimos 40 anos de elevação do nível do mar, que era até 2005. Nesse tempo não houve evidências de aumento no nível do mar, mas se tudo o que se discute na COP21 for verdadeiro e se concretizar, podemos ter um aumento no nível do mar. Em Itajaí, a altura média é um metro, então sofreríamos com isso também. Aqui nós sempre temos condições ruins de navegabilidade. Temos um problema sério em termos de embarcações. O pescador daqui conhece o esquema. Dependendo do tamanho da embarcação, ele pode se abrigar em Porto Belo, caso sele esteja próximo, mas se ele passar de Florianópolis, ou ele volta para Itajaí ou vai para o Rio Grande do Sul, não dá para escapar. Quando é embarcação menor há lugares para se abrigar, mas embarcações maiores são um problema. Eles estão sempre enfrentando o tempo ruim.

*Confira a entrevista completa na versão impressa do Jornal dos Bairros


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