sexta, 29 de março de 2024
Política
06/11/2015 | 08:29

“O Volnei não respeita mulheres e o PMDB tem uma história de participação feminina. Então por que devemos aceitar?”

O clima de rivalidade instaurado no PMDB de Itajaí só parece aumentar. Após o diretório estadual nomear Gaspar Laus como interventor para que haja um consenso sobre a convenção municipal pouco parece ter mudado. Tanto que na última segunda-feira, militantes da chapa 1 se reuniram para pressionar o partido a realizar a convenção com duas chapas concorrentes.

Secretária de Desenvolvimento Regional de Itajaí, Eliane Rebello é uma das lideranças de longa data da sigla e que encabeça a disputa na chapa 1. Filiada ao partido aos 18 anos, ela falou sobre o momento pelo qual passa o PMDB na cidade e não recuou ao nomear culpados.

Falou também de sua relação com Volnei Morastoni, com quem trabalhou lado a lado quando foi vice-prefeita e ele prefeito de Itajaí, e sobre a imposição estadual de que ele seja o candidato a prefeito pelo partido no ano que vem. Para Eliane a democracia não está sendo respeitada e caso não haja diálogo pode haver uma reviravolta na história do PMDB de Itajaí. 

Jornal dos Bairros - Como está a situação do partido hoje em relação à convenção municipal? Conversamos o presidente em exercício do PMDB em SC, Valdir Cobalchini, e a expectativa é de acordo. Como a senhora avalia isso? Foi necessária essa intervenção?

Eliane Rebello – O ideal é que tenhamos um acordo, mas o PMDB é um partido cuja história política é de que haja convenções. Há dois anos já houve uma disputa acirrada. O PMDB tem uma história de discussão interna de filiados e de disputa. Não deve ser estranho que haja uma disputa, obviamente, mas se puder haver consenso não sou eu que vou me opor. Agora, consenso pressupõe diálogo e isso não está acontecendo. Em nenhum momento nós fomos chamados para conversar. As conversas que tivemos no gabinete do vice-governador de Santa Catarina, Eduardo Pinho Moreira, dois meses atrás, todas garantiam a convenção. Foram conversas com o presidente em exercício do PMDB, Cobalchini, o vice-governador, o ex-governador, Paulo Afonso, o ex-deputado João Matos e a executiva do PMDB daquele momento. Todos acertamos e houve a palavra deles de que nós disputaríamos uma convenção e que seria soberana. Eu dizia para eles “há boatos em Itajaí de que vocês intervirão”. O Cobalchini garantiu que o partido não tem essa vocação intervencionista, é um partido que tem a história da democracia, da luta pelas diretas. O PMDB nasceu exatamente para estabelecer o estado de direito no Brasil. Temos uma história política para que as decisões sejam soberanas em sua maioria. Isso foi convencionado, mas não foi cumprido. 

Jornal dos Bairros – Então já havia a conversa de que poderia haver uma intervenção?

Eliane Rebello – Sim, tanto que nós pedimos a reunião com o Pinho Moreira [vice-governador] para nos garantir e houve garantias de todos os membros do partido naquele momento. Essa é uma garantia que nós tínhamos e que não foi cumprida. O nosso histórico do PMDB está sendo contrariado, contradito, esquecido, rasgado. Pode haver consenso? Claro, porque os seres humanos se superam. Não sou eu e mesmo a minha participação é uma só. Tivemos reunião com uns 120 militantes do partido e outras pessoas pedindo a convenção. Nós queremos votar. O exercício do voto, para nós, é uma coisa sagrada. Dessa reunião saiu uma proposta de que as pessoas vão colher as assinaturas dos filiados do PMDB para pedir à executiva estadual para promover as eleições. Se ela puder ser consensual, ótimo. Mas para ter consenso é necessário ter diálogo. 

Jornal dos Bairros – É como um abaixo- assinado para que haja a democracia dentro do partido?

Eliane Rebello – Exatamente. Democracia para nós é um exercício natural. A chegada ao poder pressupõe vontade popular. A chegada a qualquer cargo de comando no PMDB pressupõe voto. É a nossa história partidária, não podemos esquecer isso porque é o nosso bem maior. “Nós queremos que o Volnei Morastoni seja o candidato”. Então faça um decreto impositivo. Quem é que vai para a rua trabalhar por essa candidatura se nós não conversarmos?

Jornal dos Bairros – Não houve então um acordo com a direção municipal para que o Volnei se tornasse filiado do PMDB. Não houve um comunicado?

Eliane Rebello – Nós fomos informados de que ele queria vir para o partido na reunião em que mencionei. O Pinho Moreira me questionou sobre o problema de o Volnei ser filiado ao PMDB. Eu respondi que não havia problema, que o problema era a imposição de uma candidatura em Itajaí que nós não queremos. Admitimos perder se perdermos a convenção. Temos uma candidatura e entendemos que é o Beto Graf, um empresário da cidade, pessoa que participou da gestão do Arnaldo Schmitt e tem participado e tem um nome na cidade. “Ah, mas ele não tem voto”. Quem começa na política, quem primeiro dá a cara, não tem voto mesmo. Mas pelo menos não tem 40% de rejeição. É um homem que quer vir para a política, é filiado desde 2006, participou de outras gestões. Então, por que não? Penso que a sociedade atual quer renovação, quer figuras novas, gente com o velocímetro zerado. Por que não começarmos com essa figura? É isso que queremos e é a ideia do nosso grupo político. Podemos tê-lo? Sim, se a convenção votar a favor. E o Volnei é a outra opção. Então, vamos votar e decidirmos isso. [Até porque não está 100% certo de que vocês ganhariam a convenção] Mas nós admitimos perder no voto. Ganhar ou perder faz parte do jogo político. Agora, nós queremos o respeito porque nós apresentamos o Beto como nosso candidato. Nós queremos construir uma candidatura do Beto. Eles querem nos impor o Volnei porque o Beto não tem voto. É claro que ele não tem ainda porque nem houve eleição, não teve campanha. Somos obrigados a ficarmos com as mesmas figurinhas, aquelas passadas, que deram mau exemplo? Por quê? O Volnei não respeita mulheres e o PMDB tem uma história de participação feminina. Então por que devemos aceitar? Não, nós admitimos perder no voto, mas não admitimos que isso seja uma decisão monocrática, de cima para baixo. O Omar Baga [presidente do diretório municipal], que é uma liderança, foi gestor da Celesc há muitos anos. Eu tenho anos de militância no partido, o Dinho e o Arnaldo Schmitt. Não é posição da Eliane, é a posição do PMDB, é diferente. Nós temos os nossos suplentes de vereadores e todos são a favor da tese. Pegaram um interventor [Gaspar Laus] que tem seis meses de filiação e não conhece o partido, a militância. O que é isso?

Jornal dos Bairros – Como está a intervenção?

Eliane Rebello – Não sei como está sendo feita porque não temos contato. Continuamos reunindo o nosso pessoal para trabalhar e nos fortalecer. Temos grupo no WhatsApp com 100 membros, porque não pode ter mais, e nós conversamos muito. Nos alimentamos dos nossos pensamentos democráticos. As pessoas vão propondo e oxigenando as ideias. É assim que estamos nos virando. Vai chegar um momento em que vai haver eleição. Pode ser amanhã, depois, daqui um mês, daqui a 90 dias como eles estão dizendo. Eles podem prorrogar por mais 90 dias, mas vai chegar o dia da eleição. Nós aguardamos um bom senso, não um consenso. [Já foram chamados para uma reunião?] Não. Tivemos a declaração do presidente em um jornal da cidade e ele disse: “quem estiver descontente com o partido, um abraço”. E nós estamos descontentes. 

*Confira a entrevista completa na versão impressa do Jornal dos Bairros


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