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28/06/2012 | 15:23

A VISÃO DE MÁRIO SCHENBERG - por Luiz Henrique da Silveira

 

 

Neste sábado, 30 de junho, transcorre o 98º aniversário de nascimento do mais importante físico teórico do Brasil, o recifense Mário Schenberg.

Ele dizia que poderia ter se tornado um artista, o que só não aconteceu graças à estupidez dos cursos de desenho, onde se punha um jarro no meio da sala de aula e obrigavam a copiá-lo. “Eu, que desenhava muito, coisas da minha imaginação, não gostava de ficar copiando detalhes. Fiquei então com o complexo de que não sabia desenhar. Só com trinta anos voltei a fazê-lo e vi que não era tão sem jeito quanto supunha”.

Mas isso não o impediu de ser um dos mais lúcidos críticos de arte do Brasil e ativo incentivador da pintura e das artes plásticas, tendo convivido com artistas brasileiros como Alfredo Volpi, Di Cavalcanti, Lasar Segall, Pancetti, Mário Gruber e Portinari, e também estrangeiros, como Bruno Giorgi, Chagall e Picasso.

Sua carreira de físico se definiu por volta dos treze anos, quando estudou pela primeira vez física e geometria. Mas a pessoa que teve mais influência sobre ele foi o professor Luís Freire, da Escola de Engenharia do Recife, pai de um saudoso e querido amigo meu, o ex-senador Marcos Freire.

Em 1939, Schenberg partiu para a Europa, tendo trabalhado no Instituto de Física da Universidade de Roma com o físico italiano Enrico Fermi (Nobel de Física de 1938). Com a aproximação da guerra, partiu para Zurique onde trabalhou com Wolfgang Pauli(Nobel de Física de 1945). A seguir, transferiu-se para Paris onde trabalhou com Frédéric Joliot-Curie (Nobel de Química de 1935) no Collège de France.

De volta ao Brasil, publicou trabalhos nas áreas de termodinâmica, mecânica quântica, mecânica estatística, relatividade geral, astrofísica e matemática.

Em 1940, trabalhando com George Gamow, deu-se uma de suas mais importantes contribuições em astrofísica: a descoberta da influência do neutrino na formação de uma supernova. Ele batizou esse ciclo de reações nucleares como processo Urca. O engraçado, e tipicamente brasileiro, é a origem desse nome. Certa vez, ele brincou com Gamow dizendo que "a energia desaparece no núcleo de uma supernova tão rápido quanto o dinheiro no jogo de roletas". Urca era o nome do cassino mais famoso do Rio de Janeiro na época.

Schenberg foi, por duas vezes, eleito deputado estadual: pelo Partido Comunista Brasileiro, na Constituinte de 1946, e na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro, em 1962. No primeiro caso, teve seu mandato cassado com a proscrição do Partido Comunista. Na segunda vez, não chegou a ter seu diploma registrado, impedido pelo Tribunal Eleitoral. Em 1964, foi preso pela ditadura militar 7 dias após o golpe militar, permanecendo confinado no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) por dois meses. Com a declaração do AI-5, em 1969, foi aposentado compulsoriamente e proibido de entrar no campus universitário, retornando à USP somente em 1979, com a abertura política.

No dia 11 de setembro de 2009, na inauguração do Centreventos Ministro Renato Archer, da Fapesc, em Florianópolis, lembrei o pioneirismo e aguda visão de futuro de Mário Schenberg. Em 1947, sob a liderança do economista e empresário Caio Prado Júnior, a bancada comunista aprovou o Artigo 123 da Constituição do Estado de São Paulo, instituindo os fundos de amparo à pesquisa no estado, visando a impulsionar o seu desenvolvimento científico e tecnológico. Esse projeto levou mais tarde à concepção da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), embrião de muitas outras, como a nossa Fapesc.


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