quinta, 28 de março de 2024
27/01/2012 | 15:38

Com apenas um carro, Programa de Orientação ao Migrante atende 300 ocorrências de moradores de rua por mês

 

Com lágrimas nos olhos e voz embargada, a coordenadora do Programa de Orientação ao Migrante de Itajaí (POM), Léia Rocha da Silva, desabafa: “Tem dia que não consigo não chorar. Não damos mais conta”. Ao se deparar com a história de vida da moradora de rua Monalisa, a coordenadora não consegue conter a tristeza de ver a garota naquele estado.

Léia, juntamente com o educador social Giovani Fernandes, realizaram na tarde da última segunda-feira, 23, operação de recolhimento de moradores de rua nos fundos do Ginásio Mário Tavares, no Centro de Itajaí.

Com cerca de 300 atendimentos ao mês, o POM tem apenas uma Kombi a disposição para realizar suas ações. “É só um carro pra cidade inteira e às vezes temos quatro denuncias ao mesmo tempo”, comenta o educador social Giovani Fernandes.

 

Monalisa, moradora de rua

Recolhida na segunda-feira, a moradora de rua conhecida como Monalisa é de Treze Tílias, no meio oeste de Santa Catarina, e já está há 10 anos nas ruas, quatro deles em Itajaí. “Um namorado me influenciou a usar droga. Eu trabalhava de faxineira no hospital”, conta. Monalisa diz que consegue R$ 40 por dia se pedir dinheiro nos semáforos. Usuária de crack, relatou que, para ela, fuma muito pouco: de três a quatro pedras ao dia. “É tranquilo, porque tem pessoas que passam o dia inteiro fumando”, argumenta Monalisa. Ela tem seis filhos, que estão sob cuidados de tias e da avó das crianças. Depois da retirada na tarde de segunda-feira, foi levada para a Casa da Apoio Social de Itajaí.

 

Não dar esmola

A coordenadora Léia chama a atenção da população que dá esmola. Ela explica que o trabalho do POM é dificultado a partir do momento em que a população dá dinheiro ou comida para os moradores de rua, sustentando o hábito deles de ficar na rua. “As pessoas querem acabar com o tráfico, mas dão esmola. Se tu não deres dinheiro para o casqueiro, o casqueiro não vai enriquecer o traficante”.

 

Casa de Apoio

Depois de recolhidos, os andarilhos são levados para a Casa de Apoio Social. Porém, só são encaminhados aqueles que desejam ajuda, o POM não possui poder de levar os moradores de rua sem a permissão dos próprios. Na tarde da segunda-feira, enquanto se fazia o recolhimento de Monalisa, outro andarinho apareceu nos fundos do Ginásio. Ao ver a Kombi do POM, deu a volta e foi embora. “É assim, tem uns que assim que vêem a nossa Kombi já saem”, comenta Léia.

A Casa de Apoio tem lotação máxima de 12 pessoas. Segundo o educador social da Casa, Adilson Luis Nagel, muitos são migrantes de outras cidades, outros não tem onde ficar ou são usuários de droga. Atualmente existem também três idosos no local, maioria abandonados por suas família.

São necessários três meses de trabalhos de reabilitação dos moradores de rua junto à assistentes sociais, médicos e ao Centro de Atenção Psicossocial de Itajaí (CAPS), entre outras entidades. “Se eles corresponde ao tratamento, ficam no máximo três meses. Daqui a pouco conseguem vaga de emprego”, explica Nagel. Ele conta que algumas pessoas podem ser encaminhadas para clínicas de recuperação de usuários de drogas, se necessário.

 

Casarão da Joca Brandão

Demolido no dia 2 de janeiro, um prédio abandonado na esquina da Avenida Joca Brandão com a Rua XV de Novembro, no Centro, abrigava vários moradores de rua. Dentre eles, apenas alguns admitiram ser ajudados pelo POM, porém não ficaram muito tempo na Casa de Apoio. “Vieram, foram atendidos e não quiseram ficar na casa. Ficaram dois dias, um deles ainda ficou 10 dias, o Ramon. Não quis ficar, por causa do crack”, lembra o educador social Nagel. “Enquanto eles não quiserem fazer um tratamento não adianta, ninguém consegue fazer com que eles mudem, só se eles mesmos quiserem”, completa. De acordo com ele, os usuários de crack não ficam muito tempo na Casa e os que estiveram uma vez na Casa não costumam voltar.

Como explica o educador social do POM, Giovani Fernandes, é um trabalho de formiga. “É raro quem aceita ajuda, mas tem um menino que passou por nós que hoje trabalha no Porto, outros dois na Secretaria de Saúde”, comemora. E, conforme Fernandes, o dependente de álcool é o mais difícil de se lidar. “Ele está tão alcoolizado que não sabe mais o próprio nome, e as vezes começa a espernear, daí já não podemos fazer nada, forçar nada. A população fica indignada se deixamos o sujeito lá, mas não podemos levar a força, temos que deixar”.

 

Solução localizada

A Secretária do Desenvolvimento Social, Maria Juçara Pamplona, contou que na semana passada houve uma reunião entre ela, o secretário de Urbanismo Paulo Praun e o prefeito Jandir Bellini, onde os secretários fizeram um despacho para que fosse feito um projeto de ampliação dos fundos do Ginásio Professor Mário Tavares. “Oproblema é que tem o beiral nos fundos, e os moradores de rua vão ficando ali. A gente tira, eles voltam”, comentou Juçara. Ainda, segundo a secretária, o prefeito já determinou que fosse feito o projeto de ampliação. Porém, não há previsão para a realização das obras, pois depende ainda da elaboração e tramitação do projeto, processo que demora. “Ainda faremos orçamento e pode haver licitação, que demora 60 dias, então não temos como prever”, explicou Paulo Praun.

 

Trabalho interminável

A secretária Juçara Pamplona explica que o trabalho social com os moradores de rua é um trabalho contínuo, pois muitas pessoas retiradas de locais na rua, voltam para os mesmos lugares. Ela conta que o trabalho conjunto da Secretaria, do POM, da Casa de Apoio, CAPS, e demais entidades, é de orientação, de ajuda. Se acaso os moradores de rua estiverem fazendo alguma coisa errada, daí se torna questão de policia. “A repressão não é nossa. A nossa equipe ajuda a restabelecer vínculos com algum lugar, com a família”, expõe Juçara.

Para denuncias referentes a moradores de rua, a população pode ligar para o POM nos números 3248-4596 ou 9919-8961 (plantão).


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